"PACHAMAMA"
Pachamama1 |
A Mãe Terra é nossa grande aliada.
Os povos andinos a chamam de Pachamama, nossa querida madrezita
que nos dá água, alimento e ar.
Para os Andinos, Pachamama nos deu o dom da vida e é considerada
como a divindade maior do nosso mundo.
Ela nos ensinou a amar tudo incondicionalmente através do seu amor
maternal, pois através do seu amor ela vela por nós e nos acolhe com seu imenso
amor.
Ela é a Mãe da purificação, da limpeza e do perdão.
Pachamama significa Mãe Terra.
A palavra é de origem quéchua, uma língua antiga dos povos andinos
anterior aos Inkas.
“Pacha” significa solo, terra ou mundo, já “Mama” significa Mãe ou
senhora.
Entrar em contato com a natureza ajuda a elevar nossas esperanças
e nos dá coragem para viver.
Ela nos ensina como nós somos merecedores dessa dádiva, porque
somos as crianças da Mãe Terra, independente de raça, religião, ou de cultura.
A natureza nos faz viver em unidade com todas as coisas, e é esta
unidade que nos coloca em equilíbrio e em paz com tudo.
A cada nascimento do sol ou no simples desabrochar de uma pequena
flor, passamos a compreender que existe um Grande Mistério no Universo.
E são exatamente nestes pequenos milagres do dia a dia que vemos o
belo sorriso da nossa Mãe Terra, a Pachamama.
Na primeira vez que estive nas montanhas andinas, tive a graça e o
prazer de encontrar com Pachamama ao descer a montanha Ausangate e seguir até o
Rio Willcamayu, o rio sagrado dos Inkas.
Foi lá, no meio das águas gélidas do rio que ao abrir os meus
olhos, pude sentir a vibração da Mãe Terra com seu cabelo castanho-escuro,
olhar misterioso e sorriso radiante.
Pude sentir seu corpo esbelto, curvilíneo, num perfil luxuriante.
A barriguinha côncava abrigava hemisférios erógenos e eróticos, a
vi caminhando maravilhosamente revelando a postura perfeita de uma imperatriz.
Aquela à minha frente era a Grande Mãe Terra, Pachamama e nela se
desvendam todos os mistérios da criação ao receber a semente do Sol e
transformá-la.
Não é à toa que os povos andinos a consideram a Deusa da Vida.
Nos Andes ela é adorada em suas diferentes formas: Andenarias,
cavernas, montanhas, pastos, rochas e rios.
Durante o Império Inka eram celebrados rituais em sua honra para
que houvessem boas colheitas.
Em minhas jornadas pelas montanhas andinas, aprendi que o Cosmo e
todas as coisas no mundo são um campo de energia.
Uma árvore é um campo de energia.
Uma montanha é um campo de energia.
A pedra.
A estrela.
Tudo irradia energia, e é composto de filamentos de energia
luminosa.
Vocês podem imaginar um violão, ou uma harpa que está cheia de
cordas invisíveis.
Nossos corpos são iguais e preenchidos por filamentos de energia
luminosa.
Esses filamentos estabelecem comunicação com o infinito.
Quando começamos a jogar com todas as cartas do universo notamos
que existem crianças de três mil anos de idade e anciões que ainda são
crianças.
Somos conectados a outras vidas por milhares de anos de existência
no Cosmo.
A Realidade não é uma só.
Há muitas realidades.
A realidade por nós vivida, em sociedade, é a realidade que foi descrita
desde que éramos crianças.
Mas de repente descobrimos que existem muitas outras realidades.
E a mais importante delas é a realidade não ordinária conectada ao
mistério da existência.
Por exemplo, noite; o que é a noite?
Simplesmente o sem espaço? Não!
O nome dela é Tuta e ela é a mãe de todas as estrelas.
Todas as sementes do Cosmo estão dentro da noite.
Ou a lua.
Nós falamos que a lua ainda é um satélite.
O nome dela é Killa, e ela é o espelho de nosso mistério.
A energia feminina da lua trabalha com os odores da noite.
Já Pachamama, é a Mãe Cósmica.
A expressão da energia cósmica feminina, que trabalha com o
sangue, com o nascimento, e a morte.
Se aceitamos a descrição dos filamentos, descobrimos que ainda
somos crianças.
Descobrimos que estamos sentados no colo da Grande Mãe que é
Pachamama.
Deixemos de lado por um momento nossa arrogância pessoal, as
proteções e estruturas mentais, e sintamos o colo de Pachamama.
Esqueçamos de nossa face cultural e tentemos recuperar a primeira
face, aquela que temos ao nascer.
Essa é nossa melhor face.
Recordemos a primeira vez em que vimos a face de Pachamama.
Iremos assim sentir e permitir que aquela onda de energia percorra
pelo nosso corpo alimentando-nos com a sua força.
Uma vez que sintamos Pachamama, começamos a ter uma consciência
muito clara do nosso lugar no planeta.
Isto é porque trabalhamos com Pachamama, a Mãe Cósmica, a Mãe de
todas as Mães.
Em meu próprio caminho, percebi que nossa terra, Pachamama, é
maravilhosa.
Isto é maravilhoso! Ninguém pode me falar que em todas as
constelações e nos milhões de mundos no Cosmo existe um planeta mais
maravilhoso que nossa Terra!
Eu sei que pode ser uma arrogância pensar assim, que existem
outros lugares na galáxia, mas nenhum deles é a nossa Mãe Terra.
Mas como vocês podem perceber, estou interessado na sutil asa da
borboleta, em todas suas nuances.
Estou interessado na respiração da Lhama.
No voo do Beija-Flor.
O que pensa o Puma do Condor?
O que pensa o Jaguar na floresta?
O que pensa a floresta no rio?
Esta é a voz da Natureza na qual o chorar de medo é simplesmente
falta de amor.
No Caminho Sagrado do Xamanismo, aprendi que a vida de um Xamã é
uma vida de serviço.
Todo ser vivente no universo tem uma relação para consertar que
deve ser descoberta, ser desenvolvida ou ser reconstruída.
De algum modo, temos que aprender com Pachamama, a nossa Mãe
Terra.
Todas as práticas dos Xamãs são modos para curar nossa relação com
as forças cósmicas e trazer equilíbrio para nossas vidas, tecendo uma teia de
energia com todas as coisas.
O xamanismo é uma responsabilidade espiritual e estética de todos
nós.
O mundo foi desenvolvido com abuso e exagero.
O mundo tecnológico alcançou um nível incrível, bonito, mas
produziu exageradamente um desequilíbrio na Mãe Terra, devido à ganância do
homem.
O grande corpo da natureza constantemente demonstra a
reciprocidade dos idiomas do universo e dos espíritos.
Esta reciprocidade, especialmente no campo de energia, cria uma
harmonia que pode equilibrar a energia coletiva do planeta dentro de uma matriz
antiga da ordem universal.
Os idiomas formal e cultural criam limites.
A essência principal da vida é a Natureza e o idioma é o Amor.
Se não há amor, então temos que usar nossa mente, mas ela frequentemente
só nos trará preocupações.
Nosso trabalho mais importante é colocar nossa mente no
travesseiro e deixar que ela descanse.
Esqueçam isto!
A mente é um espelho de nosso ego e nos carrega com todos os tipos
de reflexões, racionalizações, inseguranças e diálogo interno.
É necessário abrir as portas da percepção e escutar com o corpo
inteiro.
Desta forma, nosso diálogo interno desaparecerá.
Se formos além de nosso diálogo interno e abrirmos as portas à
energia do Cosmo e escutarmos o silêncio perceberemos que tudo é povoado por
vozes.
A primeira voz que ouvimos pode ser o espírito do fogo ou o do
vento, e então notaremos que as outras vozes da natureza virão.
A árvore, a pedra, a água.
E pouco a pouco nossos corpos tomam consciência de que somos uma
parte da grande totalidade da energia cósmica.
Se nos conectamos com os filamentos do Cosmo, não somos indivíduos
separados do resto do Universo.
Se conectamos nosso corpo com as pedras, com as árvores, com o céu
e com o Cosmo, veremos então que é muito fácil transformar a energia da vida.
Imaginem como são insignificantes os problemas cotidianos quando
uma pessoa sabe manipular o uso correto de energia.
Os Xamãs Andinos têm um sistema que tendem a não fazer a distinção
cartesiana entre assunto e objeto, entre interno e exterior, entre o secular e
o sagrado.
Assim eles podem realizar os saltos dos causais, e são capazes
literalmente de pisar fora do tempo linear.
Eles não perderam a função sensória do conhecimento, eles
percebem, sentem e são capazes de atravessar os cinco sentidos.
Eles são capazes de sentir a textura de uma montanha, percebem
totalidades que são por definição não lineares.
A fluência das percepções sensórias deles é em parte um resultado
da relação deles com a Natureza.
A interação deles com a Mãe Terra, Pachamama, faz parte do seu ser
e de sua existência.
Nós, Guerreiros do Coração, estamos fazendo uma ponte de
entrelaçamento através de nosso sistema de crenças e práticas.
Não fazemos isto por razões egoístas, mas para conservar o
espírito de nossas tradições ancestrais.
Nosso propósito não é resolver uma crise particular, mas
apresentar ao mundo nova natureza espiritual.
Quando eu falo, não é de minha visão pessoal, mas de como o Cosmo
é visto pelos Guerreiros do Coração.
É uma visão milenar.
A mensagem dos Ancestrais Andinos é que as pessoas precisam se
reconectar com a matriz do Cosmo, com o espírito de Pachamama, nossa Mãe Terra,
com os espíritos das montanhas, os Apus, e com o espírito das estrelas.
Aprendi como nativos andinos, a viver em completo “ayni” com a
Natureza, com os homens, e com o Universo.
Ayni no dialeto Quéchua quer dizer reciprocidade, ou equilíbrio.
Significa ter uma relação síncrona com a Natureza, com os três
mundos da cosmologia andina, e com o ego.
A vida para os Andinos é um espelho da nossa relação com a
Natureza, e “ayni” é caminhar com beleza e amor por toda vida.
Também significa pisar com graça e ternura na superfície de nossa
verdadeira mãe, Pachamama, a nossa Santa Madre Terra… sentir essa energia
nutritiva da Terra pulsando debaixo dos nossos pés, fluindo sempre em nosso Ser
e saber que somos amados por ela.
Um dos maiores problemas que vejo no nosso país é o descaso com a
Mãe Natureza.
Deveria haver no sistema educacional do país, uma matéria que
mostrasse às nossas crianças que devemos amar e respeitar a Pachamama, a nossa
Mãe Terra.
Porém, toda esta riqueza biológica está ameaçada pela expansão
desordenada da fronteira agrícola.
Há milhares de hectares de pastos abandonados, implementados de
forma inadequada.
Aumenta a cada dia os desmatamentos.
Este é mais uma consequência do descaso e talvez desconhecimento
de uma política de incentivos que favoreceu a expansão irracional agrícola e o
uso não sustentável do solo.
Penso que as queimadas, deveriam ser realizadas a cada sete anos.
A natureza é perfeita.
No cerrado, a maioria das plantas estão adaptadas ao fogo, até
mesmo algumas espécies só germinam quando são realizadas a queimada.
Ainda existem milhares de espécimes que ainda não foram
descobertas na nossa flora.
Deveria haver uma campanha maciça sobre a importância do nosso
solo e dos riscos que as regiões correm.
Já existem algumas boas propostas de alternativas econômicas
sustentáveis para algumas populações locais, que incluem principalmente o
ecoturismo e o extrativismo de algumas espécies de vegetais de alto valor
econômico.
Mas para que tudo isso ocorra, devemos aprender a respeitar a
Terra.
Devemos ir para o meio da Natureza e sentir o abraço da Mãe Terra.
Não é à toa que antigas formas de vida e um movimento ecológico
mundial esteja ocorrendo.
Cada um de nós tem uma missão neste movimento.
Um movimento no qual diversas tribos, de cores diferentes, se unem
para fazer parte de um grande organismo e trabalhar para curar o nosso mundo.
Um mundo repleto de mistério que é expresso ao ouvirmos a voz dos
ventos.
Para mim não existe nenhum planeta mais bonito do que o nosso, mas
para que ele continue assim, Pachamama tem que ser respeitada e amada como mãe
que ela é.
Aos poucos, a ganância de muitos, a exploração capitalista de
recursos naturais e o progresso desordenado estão minando a vida de nossa Mãe.
Como um Guerreiro do Coração, filho da Mãe Terra, procuro lutar
para que isso não aconteça.
Por isso procuro reeducar os que estão a minha volta no sentido de
amar a sua casa, seu habitat, mostrando através dos meus atos a respeitar o
ambiente em que vivemos.
Percorrendo o Caminho Sagrado do Xamanismo, pude aprender com as
tradições ancestrais nativas que eles amavam Pachamama com suas belezas
naturais procurando manter tudo num equilíbrio perfeito para que não
perdêssemos essa beleza.
Não podemos conceber a idéia de que existam animais e plantas em
extinção
Isso não pode ocorrer.
Sempre houve um equilíbrio íntimo entre os homens e a Mãe
Natureza.
Nos Andes, aprendi uma palavra que traduz a Arte Sagrada da
Reciprocidade, Ayni, pois tudo que fazemos à Mãe Terra, recebemos na mesma
proporção.
Baseado neste equilíbrio é que os povos andinos sempre realizam
suas oferendas a Pachamama.
Creio que não haveria a ameaça de extinção, se os homens
aprendessem com essa grande sabedoria milenar.
Podemos ver esse equilíbrio em outras culturas que são
consideradas pela civilização ocidental como “primitivas”, mas será que eles
não estão num grau mais evoluído do que nossa Sociedade Moderna?
Amo a Mãe Terra e tudo o que me rodeia.
É na Natureza que encontro respostas para os meus anseios.
Sempre foi assim.
Lembro-me sempre da árvore que ficava perto da minha residência,
quando eu era criança, e que sempre me recebia em seus galhos para conversar e
brincarmos juntos.
É inconcebível que se gastem milhões tentando alcançar outros
planetas quando não conseguimos resolver os problemas do planeta Terra.
Dentro do xamanismo, aprendi que para ser um curador tenho que
primeiro curar a mim mesmo.
E para estar curado e de bem comigo mesmo, tenho que estar
equilibrado.
O mesmo vale para nossa relação com a Natureza.
Deve haver harmonia entre nós e Pachamama.
Para mim, tudo que existe no Universo está interligado, sendo
assim, o que fazemos contra a Mãe Terra, é um mal que cometemos contra nós
mesmos e a nossa comunidade.
Assim que comecei meus estudos místicos, conheci um velho adágio
que dizia: “Como é em cima é embaixo”, ou seja, o Macrocosmo e o Microcosmo estão
relacionados entre si.
Para os povos nativos a Terra é Sagrada e procuram respeitá-la,
tirando o absolutamente necessário, e sempre deixando algo em troca.
A cada dia estou mais certo de que devemos seguir esta filosofia
de vida, para que no futuro as nossas crianças possam usufruir desta Terra
Sagrada que chamamos de Mãe.
Créditos: KHATY WOLF NATIVE
Nenhum comentário:
Postar um comentário