terça-feira, 9 de agosto de 2016

KAXINAWÁ - HUNI -KUIN - "A FORÇA DO CORAÇÃO DA FLORESTA"- II

Kaxinawá - HUNI KUIN

HUNI KUIN - "O POVO VERDADEIRO"


Tribo Huni Kuin - Kaxinawá-5
Tribo Huni Kuin - Kaxinawá

Os Kaxinawá também chamados de Caxinauas e Caxinauás são uma etnia indígena sul-americana pertencente à Família linguística Pano.

Huni Kuin é a expressão nativa do povo Kaxinawá, e significa: (“O Povo Verdadeiro”,Homens Verdadeiros” ou Gente com Costumes Conhecidos”).
O Povo Indígena Huni Kuin do Caucho, cuja terra indígena fica há uma hora de canoa a motor acima da Cidade de Tarauacá, pelo Rio Muru.
POVO HUNI KUIN-1
Tribo Huni Kuin
Povo Huni Kuin-5
POVO HUNI KUIN

Habitam as regiões de floresta tropical no leste peruano (do pé dos Andes até a fronteira com o Brasil) e o Estado do Acre, abarcando a área do Alto Juruá e Purus e o Vale do Javari, sendo mais numerosos na região brasileira que na peruana.

Os Kaxinawá constituem a mais numerosa população indígena do Acre, com aproximadamente 7.535 indivíduos (segundo o Censo de 2010).

Suas Aldeias encontram-se Acre, mais precisamente nas áreas indígenas Alto Rio Purus, Igarapé do Caucho, Katukina/Kaxinawá, Kaxinawá da Colônia 27, Kaxinawá do Rio Humaitá, Kaxinawá do Rio Jordão, Kaxinawá Nova Olinda, Kaxinawá/Ashaninka do Rio Breu e Terra Indígena Praia do Carapanã, além do Peru.

Tribo Ashaninka-1
Índios Kaxinawá/Ashaninka - Peru


Cultura

Esse Povo Indígena se inclui na Área Cultural Juruá – Purus, zona de floresta com predominância de terras baixas.

Caracteriza-se por uma subdivisão em dois núcleos resultantes da existência de dois Grupos Linguísticos (Arawak e Pano) com a característica em comum de sobrevivência à frente pioneira nacional de atividades extrativistas de borracha e caucho desde 1860.

Essa ocupação por nordestinos (cearenses e maranhenses) e, em menor escala, bolivianos e peruanos, levou à liquidação da maioria dos grupos indígenas ou a seu engajamento compulsório nos trabalhos de coleta.
Essa região subdivide-se em Juruá-Purus, onde predominam os Grupos Linguísticos: Aruaque, Aruá, Catuquina e Juruá-Ucayali, sendo essa segunda área traçada de modo a abranger a maior parte dos índios da Família Linguística Pano.

No passado, foram chamados de Barbudos.

O Termo Pano é pejorativo: vem de Panobu, que significaria "os chorões", não sendo uma autodenominação destes povos, mas sim, um heterônimo, dado por povos pertencentes a outras famílias linguísticas.

Os povos pertencentes à família Pano estão localizados no Extremo Oeste da Amazônia Brasileira e na região correspondente ao Piemonte Andino, no Peru.

Todos os povos cujas denominações são terminadas: Nawa, Náua ou Nauá pertencem a este grupo: KaxinawáYawanawá, Shawanawá / Shawadawã), ShanenawáJaminawá, entre outros.
     
Índio Tribo Yawanawá-3 

                                                   Índio Tribo Yawanawá                                                           
 Kaxinawá - Nilson Puywe
Shanenawá 2
Shanenawá
Hu ँ du SvnavÁ-ona
Hu ँ du SvnavÁ
 ÍNDIAS KUNTANAWÁ

SHAWANAWÁ - POVO ARARA2
SHAWANAWÁ - POVO ARARA
Haru Kuntanawá-2
Haru kuntanawá
Povo Kuntanawá - (povo do coco)1 - Alto Juruá - Rio Tejo - AC
Povo Kuntanawá - (povo do coco) - Alto Juruá - Rio Tejo - AC

Jaminawa-1
Jamináwa
Tribo Puyanawá-1
Tribo Puyanawá



POVO SHAWANAWÁ – O POVO ARARA
Hu ँ du Svnavá de dois
Hu ँ du SvnavÁ

O POVO ARARA é oriundo da Família Lingüística Pano.

Seu Território localiza-se no município de Marechal Thaumaturgo, Ac, com uma população de 378 pessoas, numa área delimitada e demarcada de 28.926 ha.

Esse povo autodenomina-se JAMINAWA ARARA e é conhecido também por Shawanawa, Arara, Xawanáua, Xawanáwa, Chauã-nau, Ararapina, Ararawa, Araraná, Ararauá e Tachinauá.

Sua Organização espacial no interior da terra indígena está distribuída em uma aldeia – Sirqueira – e três comunidades – Bom Futuro, Buritizal e São Sebastião.
Estes formam grandes conglomerados populacionais com residências nas aldeias e comunidades.
Esta forma de ocupação permite maior facilidade para transportar os produtos de primeira necessidade e facilitar no deslocamento até as cidades.
Além disso, há também a predominância de fatores culturais e produtivos, bem como diferenças entre grupos, levando-os a permanecerem em aldeias distintas.
Mais do que isso, tal distribuição espacial favorece as atividades de subsistência, diminuindo as dificuldades para o transporte de doentes, mas traz a escassez de caça, pesca, prática da coleta e agricultura por viver socialmente juntos para facilitar o convívio grupal.
Segundo a história oral dos Arara e as fontes históricas sobre o Alto Juruá, o contato entre esse povo e os não-índios só ocorreu no início do século XX.
Mais precisamente em 1905, período em que estava sendo aberta uma estrada que iria ligar Cocamera, no Tarauacá, a Cruzeiro do Sul.
Foi quando Felizardo Cerqueira e Ângelo Ferreira conseguiram, juntamente com índios Yawanawa, Rununawa e Iskunawa, estabelecer contato com os Arara que estavam localizados na região do igarapé Forquilha afluente da margem esquerda do riozinho da Liberdade e estes entraram em contato com os índios do Rio Bagé e Riozinho Cruzeiro do Vale.
Nesse período, os Arara residiam com os índios Rununawa, sendo todos liderados pelo célebre Tuxaua Tescon, que era casado com a filha de um Tuxaua Arara.
O padre francês Constantino Tastevin esteve no Alto Juruá, depois de 1912, deixando por escrito relatos da região e dos habitantes nativos.
Em tais relatos, Tastevin faz uma distinção entre os Arara do Tauari e os do Forquilha, dando a entender que os Arara estavam divididos em mais de um grupo, ou em diferentes aldeias de um mesmo grupo.
Tastevin relata, ainda, as constantes guerras intertribais travadas pelos Arara no início do século XX.
Sabe-se que os Arara empreendiam migrações ao longo dos Rios Tejo, Bagé, Liberdade e Amahuaca (Riozinho Cruzeiro do Vale).
Desses deslocamentos ocorreu o combate que resultou na morte de Tescon, em 1914, devido a um conflito com os Arara.
Após a morte de Tescon, ocorreram ainda vários conflitos envolvendo o grupo que era liderado por ele, obrigando, assim, os Arara a migrarem para as proximidades dos rios Bajé, Tejo, Gregório e o riozinho Cruzeiro do Vale.
A história, a lembrança dos antigos, têm muita importância para o povo Arara, e as informações relativas a eles, em geral, estão vinculadas às correrias, às guerras intertribais, ao parentesco, à organização social, aos costumes tradicionais, às práticas de secessão e às migrações do grupo por um vasto território.
Nem todo são Araras, devido às guerras e aos casamentos intertribais que fizeram com que indivíduos de outros povos passassem a fazer parte da Nação Arara.
A região atualmente habitada pelo povo indígena Arara era território dos grupos Pano, desde o período pré-cabralinos, mas a partir de meados do século XIX, passou a ser ocupada também por exploradores e comerciantes vindos de Belém, Manaus e centros urbanos localizados ao longo do rio Solimões.
Entretanto, a exploração e ocupação efetiva da região do Alto Juruá, ocorreu apenas nas duas últimas décadas do século XIX, após vários embates com os grupos indígenas da região.
Nesse período, a região foi povoada principalmente por migrantes oriundos do Nordeste brasileiro.
Em fins da última década do século XIX, o Alto Juruá já estava povoado por brasileiros, quando Peruanos “Caucheiros” ocuparam a região.
Ao longo da segunda metade do século XX, os Arara estiveram sob o jugo dos patrões.
No final da década de 1980 ao início da de 1990, muitos Arara migraram para as cidades, principalmente Cruzeiro do Sul, devido às precárias condições de vida na terra indígena.
Os longos anos de ocupação por não-índios, fez mudar o antigo padrão de vida dos Arara.
No entanto, mesmo subjugados pelos patrões, a atividade produtiva voltada para a produção da borracha e a dependência do sistema de barracões, os Arara não abandonaram costumes tradicionais como a caça, a pesca, a agricultura e a coleta.
Decorrente do processo de colonização, instrumentos novos foram inseridos a essas atividades, como machado, terçado, enxada, espingarda e outros.
Com isso, o povo Arara agregou habilidades como o uso de arma de fogo a uma série de conhecimentos tradicionais sobre a floresta e sua fauna, e sobre os modos de como um caçador obter sucesso em sua atividade.
Na produção econômica atual também criam animais destinados ao consumo familiar ou à venda.
As atividades de coleta destinam-se à colheita de frutos silvestres para completar alimentação, de produtos medicinais, temperos para os alimentos, óleos vegetais e outros.
Cultivam vários tipos de mandioca, milho, banana, mamão, cana-de-açúcar, inhame, cará, feijão, fava branca, arroz, batata-doce, plantas medicinais e temperos.
Os Arara produzem também artesanato que, antes da dominação imposta pelos não-índios, era confeccionado em grande escala, inclusive utensílios domésticos, adornos e armas de caça e pesca.
Alguns produtos artesanais como anéis, pulseiras, colares e bolsas de tecido são comercializados.
Os igarapés Braço Esquerda e Rio Bagé, são de extrema importância para o bem-estar econômico e cultural dos Arara.
Seus afluentes e respectivas cabeceiras coincidem com os limites da terra indígena, região onde são exercidas atividades de caça, pesca, coleta e agricultura.
Os Rituais Arara possuem um forte vínculo com a cosmologia, mas são principalmente os mitos que retratam melhor os aspectos cosmológicos do grupo.
Os Mitos, contados principalmente pelos mais velhos, vêm a ser a forma própria de transmissão do saber do povo.
A narrativa dos mitos se dá nas línguas Arara ou em português.
A Tradição e o Saber Arara dependem da preservação da sua terra, que vem sofrendo constantes invasões por regionais, causando conflitos latifundiários com a caça predatória.
Por este motivo se faz urgentes controle, pois esta é a única forma possível de se garantir a liberdade e o direito de viver desse povo.
O Povo Shãwanawa ou Jaminawa Arara, encontra-se na Terra Indígena Jaminawa-Arara no Rio Bagé munícipio de Marechal Thaumaturgo este território é reconhecido pelo governo estadual e federal.
Esta terra é habitada por 378 pessoas em quatro aldeias do Clã Shawã, que em sua língua significa Arara.
Estes ocupam uma área de 28.926 ha, seu território continua preservado assim como sua cultura.
Texto de Hundu Shawanawa

Também pertencem a este grupo os Marubo e Corubo (Vale do Javari) e Shipibo (Juruá-Ucaially peruano).

Marubo-1

Marubo
Índio Marubo-2
Índio Marubo

Os Marubos são um grupo indígena da Família Pano que habita o Sudoeste do estado brasileiro do Amazonas, mais precisamente a Área Indígena Vale do Javari.
Junto com os Corubos, os Matises e os Matsés, são denominados de modo genérico de Maiorunas.

Matsés ou Mayoruna
Atual população
Aproximadamente 3.000
Áreas com comunidades significativas
Matsés Comunidade Nativa: aproximadamente 2.200 pessoas
Língua
Matsés, uma língua da família Pano, A a maioria também fala espanhol ou Português
Religião
Tradicionais são animistas, a maioria também são cristãos
Tribos aparentadas
Matis, Marubo, Korubo, Shipibo, Amahuaca, Kulina

Liderança Matsé-3
Liderança Matsé

Índios Matsés-3
Índios Matsés

Índios Matis-2
Índios Matis
Cacique Nocar Corubo-1  - Amazônia
Cacique Nocar Corubo - Amazônia

Líder Tribo Shipibo-1 - Amazôni Peruana
Líder Tribo Shipibo - Amazônia Peruana

 Os Matises ou Matisautodenominados Mushabo ("os tatuados", de Musha) ou Deshan Mikitbo ("gente que está a montante"), são um grupo indígena falante de uma língua Pano que habita o sudoeste do estado brasileiro do Amazonas, mais precisamente, na Terra Indígena Vale do Javari, região do Alto Solimões).

Matis Escoteiro Txema-1

Matis Escoteiro Txema

Os Matsés, também chamados Mayoruna ou Maxuruna são um grupo indígena que representa o ramo mais setentrional da família etnolinguística pano.
                        
Índio Matsé (Maxuruna)-1

Índio Matsé (Maxuruna)


Índios(as) Mayoruna-2
Índios(as) Mayoruna

Habitam a região de fronteira Brasil-Peru, em comunidades distribuídas ao longo da Bacia do Rio Javari, no extremo oeste da Amazônia brasileira, e na Terra Indígena Vale do Javari, onde vivem junto com outros povos falantes de línguas das Famílias linguísticas Pano (Matis, Kulina-Pano, Korubo, Marubo) e Katukina (o povo Kanamari).

Índios Kanamari-1
Índios Kanamari

Encontram-se também na Aldeia Lameirão (Município de Atalaia do Norte) e na Terra Indígena Marajaí (Município de Alvarães), além do Peru.

Apesar da proximidade geográfica e linguística das línguas Matis e Matsés, trata-se de línguas distintas.

Os Matsés são também denominados Mayoruna, um termo de origem “Quechua” (Mayu = Rio; Runa = Gente) e em território contínuo:  Umanuc Matses, ("Gente do Exterior") e Mananuc Matses, ("Gente do Centro"), usado a partir do século XVII por colonizadores e missionários para se referirem a grupos que habitavam a região do Baixo Ucayali, do Alto Solimões e da Bacia do Javari.

Índios QUECHUA-1
Índios QUECHUA

Índios Quechuas-3
Índios Quechuas

Índios Quechuas-2
Índios Quechuas

Os Katukina do Acre também falam uma língua da Família Pano (não confundir com os Katukina do Amazonas).

Tribo Katuquina - Catuquina-2
Tribo Katukina – (AC) – Catuquina

Katukina - (AM) -2
Katukina - (AM)

A Terra Indígena Katukina/ Kaxinawá, no Município de Feijó (Acre), foi assim denominada por engano.

Ali estão, de fato, dois povos Panos, aparentados: um deles é o Kaxinawá.

Mas o outro povo não é o Katuquina: trata-se, na verdade, dos autodenominados Shanenawa (povo do pássaro azul).

Estudos linguísticos realizados na década de 1990 comprovam que, embora a língua Shanenawa seja da Família Pano (assim como a língua dos Kaxinawá e a dos chamados Katukina-Pano), apresenta diferenças significativas em relação à língua falada pelos Katukina-Pano - (Terra Indígena Rio-Campinas/Katukina e T. I. Rio Gregório, ambas no Acre).

Por receio de perder o direito às terras e considerando todo o histórico de violência e injustiça que sofreram, os Shanenawa resolveram não desfazer o equívoco.

Aparentemente: Náua ou Nawa designa "Povo" ou "Gente", acrescido de um prenome indica a que clã este povo pertence.

Ex: Shanenaua (Povo do Pássaro Azul), Yawanawá (Povo da Queixada), etc.

Os Povos Pano ou Nawa compartilham semelhanças não apenas linguísticas, mas também nas músicas tradicionais, nas práticas ritualísticas, nas histórias tradicionais e na pintura corporal, entre outros aspectos de sua cultura.

O Povo Shawã e a língua Shawã

SHAWÃDAWA - ARARA-1
SHAWÃDAWA - ARARA1 

SHAWÃDAWA-2
SHAWÃDAWA

O Povo Shawãdawa cujo nome etimologicamente é composto pelas formas Shawã, uma Arara típica da Região Amazônica e Dawa que significa Povo.

Por causa dos conflitos históricos esta comunidade foi dividida, sendo forçada a sair de onde originalmente se encontrava, isto é, no alto da cabeceira do Rio Tejo.

Alguns deles permaneceram na região, outros se deslocaram para o Rio Bagé, afluente do Tejo e outra parte ainda do grupo desceu para as encostas dos Rios Humaitá, Nilo e Valparaíso.

É importante ressaltar aqui que os índios que permaneceram no Rio Bagé são chamados de Jaminawa-Arara, na atualidade; e o outro grupo como Shawãdawa ou Arara.

Todavia, mesmo com territórios distintos a língua nativa de ambos os grupos é o idioma Shawã.

Na década de 80, juntamente com os representantes do governo de Estado do Acre e do governo federal, foram feitos os encontros com o Povo Arara do igarapé Humaitá visando a demarcação da terra indígena da comunidade.

Após um grande surto de malária nas aldeias, na mesma década, os Índios Shawãdawa se deslocaram para o Município de Cruzeiro do Sul, no Acre.

No final da mesma década, com a estrutura dos agentes de saúde e agentes agroflorestais, foi possível que, aos poucos, eles retornassem para o local de origem.

Hoje, a maior parte deles já vive novamente no Igarapé Humaitá, também conhecido como Cruzeiro do Vale, afluente do Rio Juruá.

A Sociedade Shawãdawa, ainda se autodenomina como Shawanáwa, Xawanaúna, Xawanáwa, Chauã-nau, Ararapina, Ararawa, Araraná, Ararauá e Tachinauá. Gondim (2002).

A língua Shawã pertence à Família Pano, essa família inclui outras línguas como Kaxinawá, Shanenawá, Katukina, Náwa, Nukini, entre outras. Rodrigues (1986).

Os Nukini são parte do conjunto do tronco linguístico de Povos Pano que habitam a região do Vale do Juruá e que se caracterizam por modos de vida e visões de mundo bastante semelhantes, assim como têm em comum a experiência histórica; da violência e da exploração protagonizada por seringalistas desde meados do século XIX.

Tribo Nuquini-3
Tribo Nuquini

A Terra Indígena Nukini está localizada na margem esquerda do Rio Môa, Município de Mâncio, (Acre)

Vale a pena aqui mencionar uma narrativa em que nos foi contado como o “Povo Pano surgiu por meio do Criador, um Herói Mítico, “Pai de Todos Nós”:
Vejamos o relato feito pelo índio, liderança do grupo Jamináwa - Arara:

Um dia, um homem, um velhinho matava várias espécies de animais, veado, queixada, cotia.

Depois de um tempo, de matar vários bichos, o velhinho guardou todos.
Numa certa manhã, todos os bichos se transformaram numa nação e foram embora despedindo do velhinho como se fosse um pai.

Os índios andaram, andaram e chegaram até um grande lago (rio Solimões) e não havia jeito de atravessar.

Então, boiou no lago um enorme jacaré que ia de um lado ao outro e disse para os índios matarem animais para ele comer, pois estava com fome e ele deixaria todos atravessarem em suas costas.

Muitos saíram para caçar, um índio (meio bravo matou um jacaré pequeno).

Logo depois o jacaré cantou uma música, dizendo que não precisava matar mais bichos, todos podiam levar para ele comer.

Acontece que as pessoas deixavam a comida e iam atravessando.

Quando o jacaré grande viu o jacaré pequeno, ficou com raiva de ter matado seu parente e derrubou as pessoas que estavam atravessando e comeu todas.

O jacaré afundou e as pessoas que já haviam atravessado pelas costas do jacaré não pode voltar e os irmãos ficaram separados.

Segundo a interpretação dos indígenas, o “velhinho” é o pai de todos os seres humanos, que, a princípio, eram todos iguais.

As diferenciações começam a existir quando, o homem ou nação, mata um parente (o jacaré pequeno) do jacaré grande (espécie de mediador entre o bem e o mal).

Surgem, então, os brancos por oposição aos índios; e por sua vez as nações que não conseguem atravessar o rio, ficando junto ao velhinho, seriam os membros da Família Pano, enquanto os que atravessam formam os índios bravos e os demais indígenas e os não índios também.

Assim, surgiu também a distinção linguística entre os falantes de línguas Pano, os falantes de outras línguas indígenas e os falantes de línguas ocidentais, como o português.

Entretanto, mesmo assim, o velhinho continua sendo para os Jamináwa-Arara o “Pai De Todos Nós”, índios e não índios.

A FAMÍLIA LINGUÍSTICA PANO

A Família Linguística Pano é encontrada em Territórios brasileiro, Peruano e Boliviano.

Uma característica representativa nesse grupo, é o fato de habitarem uma área geograficamente homogênea e apresentarem costumes étnicos semelhantes (Rodrigues,2002).

O primeiro estudioso a propor uma classificação para línguas Pano no final do século XlX, foi o francês Raoul de La Grasserie (1890).

Dentre as principais classificações, encontramos a proposta de Rivet (1924), que separou em três grupos a Família Pano, levando em consideração a área geográfica de cada aldeia.

O   Primeiro grupo e também maior é formado por 29 línguas faladas ao longo dos rios Amazonas e Ucayali.

O Segundo grupo por 4 línguas da região do rio Inambarí.

O Terceiro grupo por 6 línguas e dialetos falados nas proximidades dos rios Mamoré e Beni, ambos afluentes do rio Madeira (Shell, 1985).

Vale a pena mencionar que na mesma região dos povos Pano, convivem os Povos Arawák.

O Povo e a língua Wauja são pertencentes a (Família Línguística Arawák).

Tribo Arawak-5
      Tribo Arawak

índia Aruaque-1
Índia Aruaque

Os Wauja, mantém vivo o uso da língua materna, ela é usada na comunicação diária por todas as faixas etárias: crianças, jovens, adultos e idosos.

O Povo Wauja é constituído por aproximadamente 410 pessoas, de acordo com o Instituto Socioambiental (2006).

Tribo Waujá-5
Tribo Wauja 

Tribo Waujá-1
Tribo Wauja

Este povo, atualmente, está dividido em Três Aldeias: Piyulaga (Aldeia principal), Aruak e Lupuene.

Essas Aldeias encontram-se no Alto Xingu, Parque Nacional do Xingu, no Estado de Mato Grosso.

A Riqueza de Cultura Material dos Waujá é imensa.

São conhecidos pela beleza de sua Arte Cerâmica, Grafismos em Cestos, Arte Plumária e Máscaras Rituais.

Cerâmica Artesã -Uleyalu Mehinako - Povo Wauja-2
Cerâmica-Artesã-Uleyalu-Mehinako-Wauja

Além disso, possuem uma Mito-Cosmologia complexa e fascinante, na qual os animais, humanos e extra-humanos possuem vínculos que permeiam a concepção de mundo e as práticas de Xamanismo.

A Língua Waujá está classificada como pertencente à Família linguística Arawák.

Esta é a maior Família Linguística das Américas no que se refere ao número de línguas, incluindo as ramificações internas, e abrange a maior área geográfica de qualquer grupo linguístico da América Latina.

O fato dos índios conviverem próximo uns dos outros, levou (Rivet) a desconfiar de um possível parentesco linguístico desses grupos.

Ele fundamentou a hipótese nas consideráveis semelhanças gramaticais que a língua Tacana, catalogada como Arawák, apresenta com a Família Pano.

As referidas línguas Tacano-Pano-Arawák mostram aspectos genéticos semelhantes. Mason (1950)

A classificação sistemática que (Mason) propõe para as línguas Pano, reunindo-as em Pano Central, Sul Ocidental, Sul oriental pode ser encontrada nos estudos recentes das línguas Pano, (Cândido (2004).

Outro estudioso, (McQuown (1955) faz uma separação distinta entre Arawák e Tacana e menciona que a última, talvez, enquadraria-se em um grupo constituído por 38 famílias menores.

Pouco tempo depois, (Greenberg (1956) divulga que os grupos Arawák e Tacana juntos, formam um tronco: o Macro Pano.

Todavia, até 1970, estabelecer com precisão o grau de parentesco existente entre as 10 línguas não é nada fácil, principalmente, nos termos da gramática, (Rivet e Loukotka (1952).

Uma outra distribuição das línguas Pano é a de (Schmidt (1926), que dividiu os grupos Pano em três grupos menores: Norte, Sul e Central.

A região Sul subdivide-se em ocidental e oriental.

Cada língua é localizada, levando-se em consideração a posição geográfica em relação aos paralelos e meridianos.

Contrapondo ao que havia sido feito, Greenberg (1956) discute uma classificação sintética das línguas ameríndias, tendo como objetivo agrupar em uma mesma unidade todas as línguas das américas, com exceção dos grupos Na-Dene e Eskimo.

TRIBO NA-DENE-11
TRIBO NA-DENE

Tribo Eskimo-1
TRIBO ESKIMO

Propõe-se:

Oito grupos linguísticos para os índios das três Américas.

Três grupos estão na América do Sul, são eles:

Macro-Cibchan,
Equatorial Andino,
Ge-Pano-Caribe.

O grupo Ge-Pano-Caribe é composto pelos Blocos Macro-Jê, Macro Pano, Nambikuara, Huarpe, Macro-Karib e Taruma. (D’Ans (1973)

A grande hipótese é a existência de um único Tronco Macro Pano. (Greenberg (1987)

A respeito de um Tronco de Origem comum às línguas da América, outros autores buscaram reconstruir a língua Pano primitiva. (Greenberg (1956)

(D’Ans (1973) questiona as interpretações das línguas Pano e fará uma tentativa de reclassificação com base no método glotocronológico.

Nesse estudo, ele afirmará que os grupos denominados Pano Sul-Ocidentais nunca existiram e que foram analisados de forma inadequada a partir de fontes antigas relativas ao assunto.

Ela representa um avanço, no sentido de que pouco se sabia até aquela data sobre as línguas Pano faladas no Brasil.

Sugere-se uma possível relação entre MosetenPano-Tacana. (Suarez (1969, 1973)

O Moseten (língua ora tratada como pertencente a um tronco independente ora ao tronco Arawák).
TRIBO MOSETEN-2
TRIBO MOSETÉN

Acredita-se em uma longínqua relação da família Pano com o Mapuche e o Quechua. (Loos)
Tribo Mapuche-1
Tribo Mapuche

Tribo QUECHUAS-2
Tribo QUECHUAS

A primeira a comparar sistematicamente dados linguísticos de 7 idiomas Pano foi (Shell -1985).

Ao classificar as línguas indígenas do Brasil, aponta-se a Família Pano como não filiada a nenhum tronco. (Rodrigues (1986).


As Línguas Pano do Brasil são:

Milhares ( AM ),
Karipuna ( RO ),
Katukina ( AC )
Kaxarari ( RO ),
Kaxinawá ( AC / AM ),
Marubo ( AM ),
Matis ( AM ),
Maya ( AM ),
Mayoruna ( AM ),
Nukini ( AM ),
Poyanawa / Puyanawa ( AC ),
Yaminawa ( AC )
Yawanawa. ( AC ).

Índios Karipuna-1
 Índios Karipuna

Tribo Kaxararí-1
Tribo Kaxararí

Tribo Poyanawá-1
Tribo Poyanawá



Estudos descritivos têm mostrado outras línguas como da família Pano, é o caso do Shanenawa no Acre (Aguiar,1994).

Utilizando um método léxico - estatístico e 20 línguas Pano do Brasil, Bolívia e Peru, com listas de Swadesh contendo 100 palavras, (Amarante Ribeiro - GELCO II (2003), Classificou as Línguas Pano da seguinte maneira:

GRUPO I (Pano das Cabeceiras)

A - Subgrupo I
a.   Isconahua

B - Subgrupo II
b.    Amahuaca

C - Subgrupo III
c.    Cashinahua

D - Subgrupo IV
·          Yaminahua
·          Shanenahua
·         Shawãdawa (Arara)
·          A sendo mais
·          Shanenawa.

GRUPO II (Pano Beniano e Pano Ucayalino)

A - Subgrupo I
·          Katukina
·          Marubo
B - Subgrupo II
·          Chacobo
·          Pacahuara
C - Subgrupo III
·          Capanahua
·          Sipibo-Conibo
·          Panobo

GRUPO III (Pano Pré-Andino)

·          Cashibo-Cacataibo

A língua Shawãdawa é também conhecida como língua Arara ou língua Arara do Acre, todavia neste trabalho abandonamos esta denominação, uma vez que os índios se autodenominam como Shawãdawa e dizem que o nome Arara foi criado pela Funai no período do contato, por isso muitas literaturas o indicam desta forma.

Tal estudo realizado na UFPE pela professora (Carla Cunha (1993), traz incursões valiosas do idioma Shawãdawa.

Suas atividades produtivas se organizam a partir da divisão sexual do trabalho, cabendo, ao homem, a guerra, a caça e a pesca.

O domínio da maior parte das técnicas de pesca pertence ao homem.

Utilizam anzóis (mesmo antes do contato com a civilização europeia) feitos com ossos de animais.

Pescam com vários tipos de timbó, sendo que as mulheres participam da colheita de algumas espécies (puikama).

Também praticam essa atividade em pequenos igarapés, reservando-se, ao homem, a pesca nos lagos, com espécies mais venenosas.

Cabem, às mulheres, as atividades da coleta, colheita, preparação de alimentos e plantio.
Plantam banana, mandioca, feijão, amendoim e algodão em roçados.
Os homens participam da preparação do terreno, derrubada da floresta e da coleta caso seja preciso subir numa árvore, como nos casos do açaí (pana), patoá (isa),sapota (itxibin), jaci (kuti), aricuri (xebum)bacaba (pedi isan) palmito.

Os Homens também trazem frutas quando não têm sorte na caça.

As Mulheres também são responsáveis pela tecelagem (algodão), fabricação de cestos e cerâmica.

História

Os primeiros relatos de viajantes na área do Alto Juruá que falam dos Kaxinawá consideram os Rios Muru, Humaitá e principalmente o Iboiçu, 3 afluentes do Envira (por sua vez afluente do Juruá), como o habitat “original” dos Kaxinawá, antes da chegada dos Seringueiros.

Destes rios eles ocuparam a margem direita, sendo a margem esquerda ocupada pelos Kulina (McCallum, 1989; Tocantins, 1979).

No século XVIII os colonizadores organizaram excursões à procura de escravos nesta região.

Mas deste primeiro contato não se tem nenhum registro.

Estas primeiras incursões foram muito fragmentárias e de curta duração.

No final do séc. XIX, a partir de 1890, inicia-se uma onda de invasões de caucheiros peruanos e que não demorou mais de vinte anos.
 
Caucheiros Peruanos-2
caucheiros Peruanos

Caucheiros Brasileiros-2
 caucheiros

Para conseguir o Caucho, as árvores precisam ser cortadas e a região ficou logo esgotada.

Já a borracha, Hevea brasiliensis, é extraída dos cortes feitos com uma regularidade que preserva a árvore.

Por isso a chegada dos seringueiros brasileiros não foi passageira, apesar dos altos e baixos do mercado.

Nesse violento contato os grupos indígenas locais sofreram violência por parte dos exploradores que trouxeram, dentre outras coisas, doenças.

Em 1913 a região do Juruá contava com 40 mil migrantes (em sua maioria cearenses), e o Purus 60 mil.

A Violência era organizada.

A função dos Mateiros não era somente abrir estradas de seringa, era também limpar a área de índios brabos.

A reação dos Kaxinawá era roubar e assaltar, porém alguns grupos deixaram-se amansar pelos seringalistas.

Foi o que aconteceu com o grupo de Kaxinawá de Iboiçu, que aceitou trabalhar para Felizardo Cerqueira em troca de mercadorias.

Seringalista Felizardo Cerqueira-1 - Kaxinawás
Seringalista Felizardo Cerqueira - Kaxinawás

Felizardo levou-os do Iboiçu para o Alto Envira e de lá, em, 1919, para o Tarauacá, onde foram usados no massacre dos Papavó (McCallum, 1989).

Em 1924 chegaram ao Rio Jordão, onde estão até hoje, muito tempo depois da morte do patrão.

Os Kaxinawá mais velhos deste rio ainda estão marcados com as iniciais FC (Felizardo Cerqueira) do nome do patrão.

Até 1946, os Kaxinawá do Peru ficaram lá, na mata virgem, longe dos rios navegados pelos comerciantes.

Eles preferiam a independência e o isolamento à dependência que implicava maior acesso às armas e utensílios de metal.

Através dos Yaminawa eles conseguiram algumas coisas, mas parece que em meados dos anos 1940 eles decidiram que precisavam de mais e mandaram uma equipe de 6 homens para o Rio Taraya para negociações diretas
.
Com o tempo os Kaxinawá tomaram a decisão de procurar o contato com a civilização, uma decisão de profundas consequências, e questionada pelos próprios Kaxinawá.

O contato pode ser inevitável a longo prazo.

A curto prazo, no entanto, ele depende da iniciativa do grupo, que em uma geração anterior tinha escolhido a posição contrária.

Numa região onde, ainda hoje, vivem etnias, grupos de língua Pano e Arawak, que evitam qualquer contato com a sociedade não-indígena.

Em 1946, quando um Visitante Brasileiro visitou os Huni kuin, eles sabiam o que queriam dele: as mercadorias industrializadas, machados de metal, espingarda etc.

O comerciante levou madeira e caucho em troca, mas levou também alguns jovens para trabalhar com ele, o que não estava previsto (Kensinger, 1975).

Em 1951, chegaram os viajantes alemães Schultz e Chiara: “Encontramos ao todo, 8 aldeias, com um número de habitantes que variava entre vinte e 120 indivíduos.

Calculamos o número total de indivíduos Kaxinawá entre 450 e 500” (Schultz, 1955).

Em consequência desta visita morreu de 75 a 80% da população adulta numa epidemia de sarampo.

Os Kaxinawá, porém, consideravam as filmagens da equipe como causadores da onda de mortes. (Deshayes e Keifenheim (1982).

Para os Kaxinawá, que naquela época tentavam dar uma explicação para a tragédia, o filme reduzia a imagem da pessoa e assim, com seu Yuxin Yuda diminuído, a pessoa morria.

Os sobreviventes fugiram para o Envira e o Jordão no Brasil, onde moravam seus parentes empenhados no trabalho nos seringais.

Na época seca do ano seguinte, a maior parte dos refugiados resolveu voltar para o Curanja, onde não tinha nem seringa, nem patrão.

Balta, a maior comunidade Kaxinawá no Peru, é uma criação do SIL (Sociedade Internacional de Lingüística).

Com a chegada dos missionários foi construída uma pista de pouso para o transporte de bens de Pucallpa e instalado um rádio que mantinha contato com a base do SIL em Yarinacocha.

No início dos anos 1970 Balta tinha atraído tanto Kaxinawá que seu número chegava a 800 indivíduos.

A segunda maior aldeia Kaxinawá no Peru, Conta, foi construída no Purus perto de Puerto Esperanza, em 1968, por Kaxinawás vindos do Envira.

Em 1985, Conta tinha superado Balta em número de habitantes, basicamente graças à migração de Kaxinawá de Balta e Santarém, aldeia acima de Balta, que deixaram o Curanja à procura de novos caminhos para conseguir os produtos que até então eram fornecidos pelos missionários.

Conta mantém relações comerciais com Puerto Esperanza, pequeno porto construído ao redor de um posto militar de fronteira.

Alguns Kaxinawá de Conta têm feito serviço militar neste porto, experiência marcante e em alguns casos traumática.

As duas aldeias Kaxinawá, Cana Recreio e Moema, no Alto Rio Purus, representam a junção destas duas tradições Kaxinawás do último século: a peruana e a brasileira.

A primeira Aldeia, que manteve sua autonomia por mais tempo e viu sua vida ideal interrompida por menos tempo, é considerada mais " tradicional " (culturalmente mais indígena), apesar de ser marcada pelos missionários e o contato com os militares peruanos.

A segunda Aldeia viveu durante anos de forma mais dispersa e se familiarizou com a cultura seringalista pelo trabalho de duas gerações para o patrão, mas vive hoje em dia um profundo processo de retomada das " Tradições ".

As histórias de vida dos Kaxinawá de Cana Recreio e Moema contam a longa viagem entre o Envira e o Jordão no Brasil e o Alto Purus e o Curanja no Peru até parar em Cana Recreio, no Purus do lado brasileiro.

Em abril de 1989, um terço da população de Cana Recreio fundou uma nova aldeia: Moema.

Fronteira é a terceira comunidade Kaxinawá na área indígena do Alto Purus.
RIO PURUS-1
RIO PURUS

Ela é a mais antiga no rio Purus do lado brasileiro e foi fundada pelos Kaxinawá seringueiros do Envira.

O líder desta aldeia, Mário Domingos, mudou-se do Seringal Vista Alegre, no Envira, para o Seringal Triunfo, no alto Purus, no início dos anos 1970, a pedido do dono do referido seringal, Chico Raulino.

O posto da Funai foi instalado em Fronteira, que ganhou uma pista de pouso, hoje em desuso, uma escola, uma farmácia, um rádio ligado à intendência da Funai em Rio Branco e uma casa para o chefe do posto, que acabou servindo de casa para a família do Líder Kaxinawá, Mário.
   Mário Kaxinawá-2
 Mário Domingos Kaxinawá

Em 1978 os voluntários do Cimi convenceram um grupo de umas 32 pessoas em Santa Rosa, na fronteira com o Brasil, que desceram durante o ano anterior o Curanja e o Purus, vindo de Balta, a se mudarem para o posto da Funai em fronteira.

Este grupo tinha como Líder Francisco Lopes da Silva, Pancho, que fundaria dois anos mais tarde a aldeia de Canoa recreio, a uma hora e meia de descida de Fronteira.

O Realdeamento em Fronteira é um processo que até hoje não foi totalmente concluído.

As famílias parecem prezar mais sua independência umas das outras do que nas aldeias de Moema e Cana Recreio.

As casas ficam um pouco mais distantes umas das outras, há umas dez cabeças de gado pastando entre as casas, e as famílias mantêm uma economia relativamente independente.

Há, por exemplo, intercâmbios individuais com os marreteiros que navegam o rio e vendem mercadorias em troca de borracha, couro de gado e galinhas.

Enquanto essas transações tendiam a ser controladas pela coletividade e os líderes nas outras aldeias do Purus, o líder de Fronteira não tinha a intenção de controlar estas transações e não existia uma cooperativa responsável pela economia da comunidade como um todo, como acontecia em Cana Recreio.

Uma série de trabalhos, no entanto, são feitos em conjunto: as pescarias coletivas no lago ou nos igarapés com timbó (barbasco), a abertura de novos roçados e as expedições de caça por ocasião de grandes festas.

Um problema para a realização destas festas é que Fronteira não tem líderes de canto para “puxar” o canto.

A ausência de pessoas idosas que tenham vivido uma vida aldeada, (Peru) quando adultos, provocava um relativo esquecimento de elementos da cultura ao nível dos rituais, da língua e na cultura material.

Assim como não tinha nenhum homem ou mulher que soubesse todos os cantos do Kaxinawá, Ritual da fertilidade e do Txirin, ritual de iniciação da criança; não tinha mulher que soubesse tecer ou desenhar kene kuin, o estilo Kaxinawá de desenho geométrico.

Apesar desta situação marcar também a especificidade e o orgulho deste grupo, que dominava muito mais os códigos da sociedade brasileira do que seus vizinhos e que era respeitado por causa de seus poderosos tomadores de cipó, também em Fronteira (como tinha acontecido no Jordão) se procurava aumentar " a Ciência dos Antigos " com a chegada de parentes do Peru."

A tendência à cisão de aldeias é comum entre os Pano e reflete a base democrática que constitui a comunidade.

Todo pai de família pode decidir, por quaisquer motivos, mudar-se para outro lugar a fim de construir uma nova comunidade, se tiver habilidade de persuadir outros a segui-lo.

Não existe coerção nestes casos; cada indivíduo, mulher ou homem, escolhe onde ou com quem mora.

A única pressão é afetiva; ninguém gosta de morar longe dos seus parentes mais próximos.


Mito fundador

O Mito fundador Kaxinawá explica também a origem do uso de Uni ou Cipó de Ayahuasca - com que se produz uma bebida enteógena utilizada ritualisticamente.
AYAHUASCA (do quíchua Aya, que significa “Espírito”, e Waska, 'Cipó', podendo ser traduzido como "Cipó do Espírito", também conhecida como Hoasca, Daime, Iagê, Santo-Daime, Vegetal Mariri.
É uma bebida “Enteógena” produzida a partir da combinação da videira Banisteriopsis caapi com várias plantas, em particular a Psychotria viridis e a Diplopterys cabrerana.
A Ayahuasca é, frequentemente, associada a rituais de diferentes grupos sociais e religiões, além de fazer parte da Medicina Tradicional dos povos da Amazônia.
  
AYAHUASCA - MEDICINA SAGRADA-1
AYAHUASCA 

AYAHUASCA - CIPÓ MARIRI E FOLHA CHACRONA-2
              AYAHUASCA - CIPÓ MARIRI E FOLHA CHACRONA

Era utilizada pelos Incas.

Os primeiros relatos do uso indígena de Ayahuasca, no Ocidente, são dos Missionários Jesuítas.

Estima-se, entretanto, que populações indígenas utilizem bebidas com estas plantas há aproximadamente 5 mil anos, 8 mil anos ou pelo menos 3.500 anos.

A Ayahuasca é utilizada tradicionalmente em países como Estados Unidos, Austrália, Peru, Equador, Colômbia, Bolívia e Brasil e ainda por pelo menos 72 diferentes tribos indígenas da Amazônia.

O Termo ENTEÓGENO (grego EN = Dentro / InternoTHEO = Deus / DivindadeGENOS = Gerador), ou "Gerador da Divindade Interna"

A NATUREZA REAL-1
A NATUREZA


Pesquisadores de Medicina Indígena, Sistemas Etnomédicos e adeptos religiosos consideram a possibilidade, ou atribuem à substância propriedades curativas.

Nas Religiões Tradicionais do Brasil e entre Curandeiros "Mestiços" da Região Andina, por exemplo, acredita-se que a Ayahuasca é capaz de desintoxicar (purgar), reativar órgãos danificados e propiciar melhoras em quadros de dependência.

Pesquisadores estão encontrando indicativos de que a Ayahuasca auxilie no Tratamento do Câncer como também pode ter efeitos contrários aos Agentes da Malária Doença de Chagas, e auxiliar na reversão de quadros de Alcoolismo e Comportamento Suicida, na recuperação de quadros de Ansiedade Fóbica, Autismo, Esquizofrenia, Desordem de Déficit de Atenção por Hiperatividade e Demência Senil.

AYAHUASCA-3
A VISÃO DE SI MESMO – (ALEX GREY)

Segundo o Mito, um homem chamadoYube ficou fascinado ao ver uma mulher copular com uma anta e depois partir para o fundo do rio como sucuri, após a anta tê-la atraído jogando um jenipapo.

Ele joga um jenipapo à margem do rio com o mesmo propósito, e agarra-se à cabeça da mulher que emerge das águas.

Eles copulam, e ela concorda em casar-se com ele: o homem mentiu que não tinha esposa.

Ambos foram para o fundo do mar: ela voltou a ser uma sucuri, e ele também se transformou em uma sucuri.

Ele é alertado pela esposa-sucuri a não tomar o cipó, como tomavam ela e as outras sucuris, pois, enquanto estivesse no seu efeito, veria que todos eram na verdade sucuris, não teria mais a ilusão de que todos eram humanos, e ficaria com medo; ele só desobedeceu uma vez, mas foi tranquilizado por sua esposa-sucuri através de uma canção.

Um tempo após desobedecer, depois de ter tido filhos com esta mulher, um peixe que estava sendo caçado por sua esposa-sucuri o convida a pular para fora do rio, tornando-se um homem novamente.

Ele aceita o convite.

Entretanto, fora do rio, a mulher-sucuri vem buscá-lo com seus filhos para vir de volta ao rio.
Ele se recusa a voltar.

Então seu sogro tenta engoli-lo, para trazê-lo de volta a força; ele consegue, entretanto, se agarrar nos galhos de uma árvore e gritar por socorro para a sua família humana, que escuta seu chamado, chega ao local e abre seu sogro-sucuri com uma faca.

Estando a salvo, está muito debilitado e amassado por ter sido parcialmente engolido: pede então que seus parentes lhe preparem a ayahuasca do cipó e da folha, para que ele possa se curar.

Após um tempo, Yube morreu, e, desde então, os Kaxinawá continuaram a beber a ayahuasca que ele ensinou a preparar.

De sua sepultura, nasceram pássaros, como também um pé de cipó.

Xamanismo e Etnomedicina

O Xamanismo entre os Caxinauás é uma atividade predominantemente masculina e de mulheres mais velhas.
O Poder Xamânico (Muka) vem do contato com o mundo sobrenatural que acontece nos rituais coletivos, através dos sonhos, do uso do “Rapé” e da bebida Nixi Pae Ayahuasca, (Lagrou (1996).
A ARTE DO RAPÉ-1
A ARTE DO RAPÉ – MEDICINA INDÍGENA

A ARTE DO RAPÉ-3
RAPÉ

O Xamã (Mukaia) Cura seu Muka e obtém suas Visões (Yuxin) cheirando Rapé (Dume) ou através do Nixi Pae.

Os Xamãs, em sua prática Etnomédica, utilizam, preferencialmente, a fumaça do tabaco (Dume), capaz de embriagar os espíritos e, assim, liberar o espírito humano preso por aqueles para o Nixi Pae.

Recorrem a essa bebida para dialogar com os espíritos somente quando seus métodos não alcançam a cura almejada.


Huni Como

Festival XINÃ BENA - HUNI KUIN - KAXINAWÁ1
Festival XINÃ BENA - HUNI KUIN - KAXINAWÁ

O Povo Indígena Huni Kuin do Caucho, cuja terra indígena fica há uma hora de canoa a motor acima da Cidade de Tarauacá, pelo Rio Muru.
RIO MURU-1
RIO MURU
Huni Kuin é a expressão nativa do povo Kaxinawá, e significa “O Povo Verdadeiro".
Pajé Agostinho Manduca Mateus Ika Muru-1
Pajé Agostinho Manduca Mateus Îka Muru- Huni Kuin

  
Líder Siã Kaxinawá-7
       Líder Siã Kaxinawá

Pajé Bainawá Inubake - Huni Kuin-6
Pajé Bainawá Inubake - Huni Kuin

ASSIS KAXINAWA-1
ASSIS KAXINAWÁ

Artesanato Huni Kuin - Acre-3
 Artesanato Huni Kuin – (Acre)

Xamã - Txana Ixa - Huni Kuin-3
Xamã - Txana Ixa - Huni Kuin

Seja Huni Makuin-1
Seja Huni Makuin


O FESTIVAL
FESTIVAL HUNI KUIN-8
FESTIVAL HUNI KUIN
O Evento será uma experiência inédita aos Turistas e Convidados de todo o mundo, que terão acesso à riqueza cultural e espiritual do povo "Huni Kuin - O Povo Verdadeiro", por meio de uma programação exclusiva, que oferece aos participantes momentos para lá de especiais, na presença dos Pajés, Caciques, Guerreiros e Cantores Indígenas da Floresta Amazônica Acreana.
A Organização do Evento convida a estar num ambiente simplesmente mágico, que integra a natureza aos costumes regionais amazônicos de um povo multimilenar, com integração da tradição ancestral, vivências indígenas, arte e cultura, cura e sabedoria, danças e bailados, comidas típicas, e acima de tudo, na presença de pessoas encantadoras, que dedicam suas vidas para Cuidar e Honrar a Tradição Cultural do Povo Huni Kuin”.
Os Festivais Indígenas no Acre, ressurgiram na década de 2000, a partir do incentivo aos povos indígenas para o resgate e fortalecimento as suas culturas.
No Acre, são 15 povos indígenas e os Principais Festivais” são os dos povos Huni Kuin do rio Jordão, Ashaninka do rio Amônia, Yawanawá do rio Gregório.
Os Puyanawá e os Katukinas também se organizam para abrir sua cultura a sociedade envolvente.
  
Joel Puyanawa-1


 Tribo Katuquina - Catuquina

Cacique Nasso Kaxinawá-1



                                                       Cacique Nasso Kaxinawá

Para o Cacique Nasso Kaxinawá, 
O evento é um desafio para fortalecer a troca de experiência entre seu povo, compartilhando com os visitantes “A Alegria de Viver na Floresta e da Floresta”.
Toda a comunidade está envolvida em preparar a melhor recepção com muitos: Cantos, Dança, Comidas Tradicionais, Feira de Artesanato, Medicina da Floresta, Caminhadas e Banhos de Rio, além das Cerimônias Culturais”, afirmou o Cacique Nasso Kaxinawá.
Os visitantes podem acessar o festival, que inclui traslado rodoviário desde Rio Branco à Tarauacá pela BR 364, Traslado Fluvial, Alimentação e Hospedagem em Casas Tradicionais Indígenas ou Barracas.
Local: Terra Indígena Igarapé do Caucho
Cidade: Tarauacá - Acre - Brasil
Organização: Cacique Nasso Kaxinawá
Acesse o site do festival: 
Assista Entrevista com a Liderança sobre o Festival:
Cacique Francisco Da Silva Manoel Nasso Kaxinawa

“LIVRO DA CURA – UNA ISÏ KAYAWA”
Pajé Agostinho Manduca Mateus Ïka Muru-2
Pajé Agostinho Manduca Mateus Îka Muru- Huni kuin

Una Isï Kayawa – “Livro da Cura, projeto pioneiro que teve como objetivo principal, realizar o sonho do Pajé Agostinho Manduca Mateus Ika Muru de transcrever a Sabedoria Medicinal dos Huni Kuin, maior população indígena a habitar o Rio Jordão - (Acre).

Livro da Cura - Una Isi Kayawa-1
Livro da Cura - Una Isi Kayawa


Xamanismo - História
NATUREZA É A VIDA1 O XAMANISMO-1
O XAMÃ - NATUREZA É VIVER A VIDA!

Os Kaxinawa afirmam que os verdadeiros Xamãs, os Mukaya, aqueles que tinham dentro de si a substância amarga e xamânica chamada Muka, morreram, mas este fato não os impede de praticar outras formas de xamanismo, consideradas menos poderosas, mas que parecem igualmente eficientes.

Somente a retirada do Duri, equivalente do Muka, entre os Kulina, parece ter sido o privilégio do Mukaya.

Outras capacidades, como a de saber se comunicar com os Yuxin, são do domínio de muitos adultos, especialmente os mais velhos.

Dessa maneira poderíamos tanto dizer que não existem Xamãs quanto dizer que existem muitos.

Uma característica saliente do Xamanismo kaxinawá é a importância da discrição com relação à possível capacidade de curar ou causar doença.

A invisibilidade e ambiguidade deste poder é ligada à sua transitoriedade.

A afirmação de que não se tem mais Xamãs tão poderosos quanto antigamente seja interpretada à luz de uma desenfatização da figura do xamã.
Pajé Tatá Yawanawá1
Pajé Tatá Yawanawá

Pajé Agostinho Manduca Mateus.Îkamuru hunikuî-3
Pajé Agostinho Manduca Mateus.Îkamuru hunikuî

Xamanismo é mais um evento do que um papel ou uma instituição cristalizada.

Este fato se deve também às severas regras de abstinência que incidem sobre a prática do Xamã na sua forma de Mukaya, que não podia comer carne nem ter contato com mulheres.

O Uso da Ayahuasca, considerado privilégio do xamã em muitos grupos amazônicos, é uma prática coletiva entre os kaxinawá, praticada por todos os homens adultos e adolescentes que desejam ver "o mundo do cipó".

O Mukaya seria aquele que não precisa de nenhuma substância, nenhuma ajuda exterior para se comunicar com o lado invisível da realidade.

Mas todos os homens adultos são um pouco Xamãs na medida que aprendem a controlar suas visões e interações com o mundo dos Yuxin.

Dois fatos facilmente observáveis que apontam nessa direção são o uso frequente e público da Ayahuasca e as longas caminhadas solitárias de alguns velhos sem o objetivo de caçar ou de buscar ervas medicinais.

Estas duas atividades mostram uma procura ativa de estabelecer um contato intenso com a Yuxindade.

Yunxidade é uma categoria que sintetiza bem a cosmovisão xamânica dos Kaxinawá, uma visão que não considera o espiritual (Yuxin) como algo sobrenatural e sobre-humano, localizado fora da natureza e fora do humano.

O espiritual ou a força vital (Yuxin) permeia todo o fenômeno vivo na terra, nas águas e nos céus.

Na vida diária vemos um lado da realidade onde este parentesco universal das coisas vivas não se revela: vemos corpos e sua utilidade imediata.

Em estados alterados de consciência, porém, o homem se defronta com o outro lado da realidade, em que a espiritualidade que habita certas plantas ou animais se revela como Yuxin, Huni kuin, “gente nossa”.

Por se manifestar tanto como força vital quanto como alma ou espírito com vontade e personalidade próprias, nenhum termo capta bem este caráter efêmero e polivalente do Yuxin.

Na região do Purus, os próprios Kaxinawá traduzem Yuxin por alma quando se referem aos Yuxin que aparecem de noite ou no crepúsculo da mata em forma humana.

O uso desta palavra vem da convivência com os seringueiros, que também veem e falam de almas.

Quando se fala do Yuda Baka Yuxin ou do Bedu Yuxin da pessoa, usa-se mais espírito: “É o espírito da gente que vê e que fala”.

Outra tradução usada pelos Kaxinawá é “Encantado”.
A atividade do Xamã que procura conhecer e relacionar-se com os Yuxin é indispensável para o bem-estar da comunidade.

A causa última de todo mal-estar, doença ou crise tem suas raízes neste lado Yuxin da realidade, em que o Xamã, como mediador entre os dois lados, é necessário.

O Xamã trabalha com o que tem de Yuxin no mundo, com a categoria que chamo de Yuxindade.

Os lugares com maior concentração de Yuxin são os barrancos (onde moram os Mawam Yuxibu, identificados pelo lugar onde moram), o lago e as árvores.

Para os Kaxinawá, a pessoa é formada por carne ou corpo e Yuxin.

Os animais têm um lado corporal e um lado Yuxin, assim como as plantas.
Entre os animais há aqueles com Yuxin forte e perigoso, e outros com Yuxin de poder negligenciável.

A qualidade do Yuxin do animal influencia o regime e os tabus alimentícios dos seres humanos.

Os Yuxin das plantas geralmente não são nocivos ou perigosos.

Em muitos jejuns banana e amendoim, por exemplo, são permitidos, apesar dos Yuxin destas plantas serem mencionados regularmente como fazendo parte das almas que aparecem na aldeia a pedido do Xamã para curar.

Dentro de toda essa ambiguidade, os Yuxin podem aparecer “como gente mesmo”, Huni kuin, assim como na forma de certos animais.


Muka: O Poder dos Yuxin e do Xamã

XAMÃ - TXANA BANE - HUNI KUIN -1
XAMÃ - TXANA BANE - HUNI KUIN

“O Poder dos Yuxin”, que se revela por sua capacidade de transformação, é chamado Muka.

“Muka” é uma qualidade xamânica, às vezes concretizada como substância.
O Ser com Muka tem o Poder Espiritual de matar e curar sem usar força física ou veneno (remédio: Dau).

O Ser Humano pode receber Muka dos Yuxin, o que lhe abre o caminho para se tornar Xamã, Pajé, Mukaya.

“Mukaya” significa homem com Muka, ou na tradução de Deshayes “pris par l’amer” (‘pego pelo amargo’).

“O Xamã” tem um papel ativo no processo de acumulação de poder e conhecimento espiritual, mas sua iniciação acontecerá somente a partir da iniciativa dos Yuxin.

Se os Yuxin não o escolhem, não o pegam, pouco adiantam seus passeios solitários na mata.

Uma vez pego, porém, o aprendiz torna-se doente nos olhos dos humanos (“ficam doidos quando chega mulher perto”).

O ponto fraco do Yuxin é o corpo, o do homem é seu Yuxin; a “Yuxindade” ameaça o corpo do homem, e o corpo, o sangue (feminino) ameaça a cabeça dos Yuxin.

Se o homem que foi pego quiser seguir o caminho de Mukaya, ele se submete a jejuns prolongados e severos (Sama) e procura outro Mukaya para instruí-lo.

Outra característica do Xamanismo kaxinawá, expressa pelo nome Mukaya, está na oposição entre o amargo (Muka) e o doce (bata).

Os kaxinawá distinguem dois tipos de remédio (Dau): os remédios doces (Dau Bata) são folhas da mata, certas secreções e animais e os adornos corporais; os remédios amargos (Dau Muka) são os poderes invisíveis dos espíritos e do Mukaya.

A especialidade de Huni Dauya (homem com remédio doce, ervatário) normalmente não se combina com a de Huni Mukaya (Xamã).

“O processo de aprendizagem do Ervatário é bem diferente do Xamã”.

Se não lidar com folhas venenosas o ervatário não é sujeito a jejuns e pode desenvolver suas atividades normais de caça e vida conjugal.

Ele adquire seu conhecimento através da aprendizagem com o outro especialista e precisa de uma memória e percepção agudas.

O primeiro sinal de que alguém possui a potência para ser um Xamã, uma desenvolvida relação com o mundo dos Yuxin, é o fracasso na caça.

O Xamã desenvolve uma familiaridade tão grande com o universo animal (ou com os Yuxin dos animais), conseguindo estabelecer diálogo com eles, que não consegue mais matá-los:

“E anda no mato, bicho está falando comigo, disse.

Quando vê o veado, aí chama ‘hei meu cunhado’, disse, aí ficava parado.

Quando vem porco, ‘ah’, chamava, ‘ah, meu tio’, aí fica.

Aí em nossa palavra disse ‘em Txai Huaí! ’ (‘Hei, cunhado! ’), aí não come”.

O Xamã não come carne, e não somente por motivos emocionais.

A impossibilidade de comer carne também está ligada ao Muka, à mudança no olfato e no paladar da pessoa com Muka amadurecido no seu coração.

O gosto e o cheiro da carne tornam-se amargos.


O Xamã

XAMÃ-1
XAMÃ

O Xamã é temido por sua capacidade de causar doença e morte sem fazer nada fisicamente.

Pode atirar seu Muka (que é invisível quando atirado na vítima) a partir de grandes distâncias; ou pode convencer algum dos Yuxin com quem está familiarizado a matar uma pessoa.

Quanto maior o número de Yuxin aliados do Mukaya, maior será o seu poder.

Porque seu poder de cura reside, de um lado, na sua capacidade de negociação como agente ativo da cura (quando vai buscar o espírito perdido de seu paciente que se juntou aos Yuxin), e de outro, na qualidade e quantidade de Yuxin que pode convocar para uma sessão de cura, onde serão os Yuxin (seus amigos) os agentes da cura, trabalhando através (ou reunidos ao redor) do corpo do Xamã.

A viagem Xamânica continua sendo, no entanto, uma característica crucial do Xamanismo Kaxinawá.

O Bedu Yuxin viaja, livre do corpo, no sonho, ou quando o Xamã está em transe sob o efeito do Rapé ou da Ayahuasca.

Estas viagens cumprem objetivos além da cura de um caso concreto.
São excursões exploratórias.

Procuram entender o mundo e as causas últimas das doenças.

Exploram os caminhos que o Bedu Yuxin do morto terá que seguir para chegar ao céu e fortalecem as relações com o mundo espiritual pelo bem-estar da comunidade.

Existem alguns tipos de doença: um material (veneno) e outra espiritual (poder).

A doença causada por veneno, é por conta do Dauya (Ervatário), e a doença provocada pelo poder espiritual (Muka), tem um Mukaya (Xamã) inimigo culpado.

Existe um terceiro tipo: a doença causada pelos Yuxin, que é a perda pelo paciente de seu Bedu Yuxin.

A doença causada pelos Yuxin a pedido de um Mukaya também significa perda: do xamã pode-se roubar seu muka, de um ser comum sua alma.

Os dois tipos de doenças causadas por homens têm tratamentos diferenciados.

O Veneno provoca uma perda de líquidos e forças vitais (o paciente vomita, tem diarreias, fica anêmico).

O Xamã cura com sua força: cheira um tipo de rapé preparado especialmente para a cura e sopra sobre o paciente.

No Caso de a causa ser o Muka, o problema não é a perda, mas a presença de uma força negativa que toma a forma de um corpo estranho que age e destrói o corpo por dentro.

Doenças provocadas por Muka são dores agudas no fígado, no estômago ou no coração (três órgãos importantes na visão kaxinawá do corpo humano).

Nesta fase, ainda tem cura.

O Xamã chupa o local da dor para tirar o objeto intruso.

Chupa, tira o Muka que o Xamã inimigo mandou para o paciente.

O Pensamento Xamânico entre os Kaxinawá atua de forma permanente, onipresente.

Embora não se tenha mais sessões de cura e rituais públicos, como houvera no passado, é preciso considerar sua cosmovisão no âmbito maior das práticas de seus vizinhos (Yaminawa, Kulina, Kampa), com quem mantêm relações cada vez mais intensas, porque deixaram de ser inimigos declarados.

O intercâmbio ali é grande e pode se tornar um estímulo para os Kaxinawá revitalizarem seus poderes espirituais, guardados na memória da floresta.

A pessoa Humana para os Kaxinawá é concebida por três partes: o corpo ou a carne (Yuda), o espírito do corpo ou a sombra (Yuda Baka Yuxin) e o espírito do olho (Bedu Yuxin).

A carne ou qualquer corpo vivo transforma-se em pó quando seu aspecto Yuxin lhe é tirado.

Cura Xamânica-2
Cura Xamânica

Iniciação Xamânica
XAMÃ - TXANA IKAKURU - HUNI KUIN - KAXINAWÁ-3
XAMÃ - TXANA IKAKURU - HUNI KUIN – KAXINAWÁ

Existem várias maneiras de iniciar-se no Xamanismo.

Algumas resultam de uma procura deliberada por parte do aprendiz, outras ocorrem espontaneamente devido à iniciativa dos Yuxin que pegam o escolhido desprevenido.

A presença do Muka no coração do aprendiz, condição sine qua non para qualquer exercício de poder Xamânico, depende em última instância da vontade dos Yuxin.

Há dois caminhos que o aprendiz pode seguir para favorecer um encontro com os Yuxin que possam lhe dar o germe de seu Muka: ele pode aumentar sua experiência onírica dormindo muito e tomando remédios (gotas do sumo de certas folhas no olho e banhos) para sonhar mais e para lembrar-se dos sonhos; ou pode pegar o caminho da mata, enfeitar-se com Envira ou brotos de murmuru (Pani Xanku) e folhas cheirosas, cantar, assobiar para chamar os Yuxin.

O gosto das coisas também fornece informações sobre a qualidade Yuxin das coisas.

Há coisas que só Yuxin ou animal come: Husu, borboleta da noite que chupa sangue, é uma das comidas preferidas; Mai Xena, minhoca.

A pessoa em transe, sob o efeito dos Yuxin, come folhas como se fosse comida.

Outra característica relacionada ao gosto, é que o homem não come nada cru: no máximo um fruto da floresta, ou no caso de crianças, uma banana madura quando não aguentam a fome até a hora da refeição.

Também é excepcional tomar água.

Os Yuxin, pelo contrário, caracterizam-se pelo hábito de comerem coisas cruas e especialmente pela sede de sangue cru: todos os animais e insetos que chupam sangue são Yuxin.

O Jovem Xamã ao ser iniciado deve seguir os caminhos indicados por cheiros, sons e imagens que levam ao contato com os Yuxin.

É preciso ter o coração forte, senão morre, pois, a morte é consequência do colapso do coração com medo.

O colapso na iniciação (morte ou loucura) pode ocorrer devido à incapacidade do iniciado/chamado/vítima de fazer a ponte entre os dois lados da realidade.

No período que começa com o primeiro “assalto” dos Yuxin e termina quando o Muka está maduro, o Xamã iniciante mostrará sinais de fraqueza, mas esta fase liminar é necessária para o processo de aprendizagem com os Yuxin.

O Aprendiz está desinteressado das obrigações sociais e dos processos corporais, porque sua mente está voltada para o mundo espiritual.

Ele fica a maior parte do tempo deitado na rede, ou caminha aleatoriamente na mata.

Estes “Sintomas”, no entanto, não são interpretados como doença.

XAMÃS

Txana Ibã Huni Kuin (Isaías Sales) Mestre Cantos Tradição do povo Huni Kuin-1
Txana Ibã huni Kuin (Isaías Sales) Mestre Cantos Tradição - Povo Huni Kuin (XAMÃ DOS REZOS)

Kuauhtli - Líder Cerimônias - Tradição Teocali Quetzalcoatl-1
Kuauhtli - Líder Cerimônias - Tradição Teocali Quetzalcoatl

Xamã - Shipibo Conibo-1
Xamã - Shipibo Conibo

O XAMÃ-3
O XAMÃ

LIVROS XAMÂNICOS E CANTOS SAGRADOS

Livro da Cura - Una Isi Kayawa- Povo Huni Kuin-10

Livro da Cura - Una Isi Kayawa

Nuku Mimawa Xarabu (Canções Tradicionais- Huni Kuin-5
Nuku Mimawa Xarabu (Canções Tradicionais - Huni Kuin)

Cantos Nixi Pae - Huni Meka -1
Cantos Nixi Pae - Huni Meka

Catálogo TYRYETÊ - KAXINAWÁ - Amazônia Viva-1
Catálogo TYRYETÊ - KAXINAWÁ - Amazônia Viva

Livro - A Expansão Fronteira Acreana - Kaxinawás - Soad Farias França2
Livro - A Expansão Fronteira Acreana - Kaxinawás - Soad Farias Franca

Livro - Doenças e Curas do Povo - Huni Kuin -Edson Medeiros Ixã Kaxinawá-7
Livro - Doenças e Curas do Povo - Huni Kuin -Edson Medeiros Ixã Kaxinawá

Livro - Encontros - Ibã Sales Kaxinawá-1
Livro - Encontros - Ibã Sales Kaxinawá

Livro - Kaxinawá - Idioma Antepassado -Original - Hãtxa Kuï-1
Livro - Kaxinawá - Idioma Antepassado -Original - Hãtxa Kuï

Livro - Os Kaxinawá de Felizardo - Marcelo Piedrafita Iglesias-1
Livro-Os Kaxinawás de Felizardo - Marcelo Piedrafita Iglesias

Livro - PAPO DE ÍNDIO - Kaxinawás -Txai Terri de Aquino-1
Livro - PAPO DE ÍNDIO - Kaxinawás -Txai Terri de Aquino

Livro - Tastevin Parrissier - Kaxinawás - Antropóloga Manuela-1
Livro - Tastevin Parrissier - Kaxinawás - Antropóloga Manuela

Livro - UI BENA - Kaxinawá-2
Livro - UI BENA – Kaxinawá

Livro - Um Copo de Cultura - Ingrid Weber-1
Livro - Um Copo de Cultura - Ingrid Weber

Livro - Yuxin -Alma - (Kaxinawá) - Ana Miranda1
Livro - Yuxin -Alma - (Kaxinawá) - Ana Miranda

Livro - Os Povos Indígenas Brasileiros - Marcia Cristina Altvater Vilas Boas1
Livro-Os Povos Indígenas Brasileiros - Marcia Cristina Altvater Vilas Boas


MAPA TERRAS INDÍGENAS BRASILEIRAS – ACRE (AC)


Mapa Terras Índígenas - (ACRE)-1



 Mapa Terras Índígenas - (ACRE)


CERIMÔNIA - RITUAL CURA NIXI PAE – KAXINAWÁ

ACESSE LINK: Vídeo:

XAMÃ LEOPARDO YAWABANE - KAXINAWÁS RITUAL CURA NIXI PAE-1

XAMÃ LEOPARDO YAWABANE - KAXINAWÁS RITUAL CURA NIXI PAE






ACESSE LINK: Vídeo:


O SONHO DO NIXI PAE - O Movimento dos Artistas Huni kuin

Txana Ibã huni Kuin (Isaías Sales) mestre dos cantos na tradição do povo huni kuin


ACESSE LINKS: Rezos, Cantos Tradição, Música:

Os Kaxinawás – Povo Huni Kuin
TARÚ ANDÉ: O ENCONTRO DO CÉU COM A TERRA.


Pajé Agostinho Muru
SIA Huni-Like 1

 
SIA Huni Como    



ACESSE LINK: CANTOS & REZOS – KAXINAWÁ - HUNI KUIN


Kaxinawá - Nawa IBA & Maya Huni Kuin




MÚSICA HUNI KUIN:

Txana de madeira de alta Kuin :

Ninawa Pai-Da Mata & Txana Ikaruru Huni Kuin


XAMÃ Ninawa Pai Da Mata:

https://youtu.be/ByAcKSqxS0s


Tuim Huni Kui, Ninawa Pai da Mata, Ninawa's brother, Thiago Moreno Maia:.

Huni Kuin Pinu Huya Keneya :

Mapu Huni Kui :

Ritual de Cura Nixi Pae com Ayahuasca Canto Huni Meka1:

Ritual de Cura Nixi Pae com Ayahuasca Canto Huni Meka 2

Ritual de Cura Nixi Pae - Yube Txanima Pasha Dume Pae-1

Ritual de Cura - Nixi Pae - Pae Txanima-2

Ritual de Cura - Nixi Pae - Yube Txanima-3

Ritual de Cura - Nixi Pae -Yube Bau Dauti Hawe Dautibuya-4

Ritual de Cura - Nixi Pae - Dautibuya Ni Hewa Peime-5

Ritual de Cura - Nixi Pae - Yube Bau Dautibuya Hawetxi-6

Ritual de Cura - Nixi Pae - Kayatiby Matsi Dau Paiati-7

Ritual de Cura - Nixi Pae - Shuyti Dewe Yube Kayawaikiki-8

Ritual de Cura - Nixi Pae - Kayatibu na henewakame-9

Ritual de Cura - Nixi Pae - Hawe Nisu Kayatibu-10

Ritual de Cura - Nixi Pae - Kayatibu Yuta Isinipatu-11

Ritual de Cura - Nixi Pae - Kaiatibu mi muka awara-12

Ninawa Pai Da Mata & Txana um adulto.
Eskawatã Kayawa

ACESSE LINK: O RAPÉ MEDICINA SAGRADA

ACESSE LINK: AYAHUASCA – NIXI PAE – MEDICINA SAGRADA


ACESSE LINKS:


















AHOWWWWW!
O!

Tribos Indígenas Brasileiras1
Tribos Indígenas Brasileiras


“ A FORÇA DA FLORESTA E DA MEDICINA SAGRADA”
"HAUX HAUX"


ELEMENTO ÁGUA - FONTE DA VIDA-1








Um comentário:

  1. Quanta informação, e quanta beleza e riqueza, esses textos me ajudaram muito em minha pesquisa sobre esse povo sagrado, estou muitíssimo agradecido!

    ResponderExcluir