quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

SUFISMO - I - (Textos/1) - Palestras - Contos - Conhecimentos - Sabedoria

A IMPORTÂNCIA DO EQUILÍBRIO NA BUSCA ESPIRITUAL 


Texto extraído de uma palestra de Sheykh Nazim Al-Haqqani na Alemanha.
Shaykh Nazim Adil Al Haqqani
Shaykh Nazim Adil al Haqqani

Disponibilizado no site espanhol da Ordem Naqshbandi. 

Texto incluído no Livro Oceanos de Misericórdia. 

Material recolhido por volta do ano de 2002. 

Tradução livre para o português por Abd. At-Tawwab (Naqshbandi de São Lourenço – MG).
   
Sheykh Nazim Al-Haqqani: Por favor sentem-se comodamente, já que nossa reunião não é um sala de aula. 

Este não é um colégio, vocês não são estudantes e eu não sou um professor. 

Eu só peço ser um estudante. 

Todos deveriam ver se a si mesmos como estudantes, não importa o conhecimento que hajam adquirido, já que um verdadeiro estudante quando alcança um horizonte de conhecimentos, um outro horizonte lhe aparece mais adiante. 

Quando um novo horizonte aparece, esqueço-me do horizonte já adquirido, e me esforço por alcançar o novo horizonte vislumbrado. 

Desta forma, a viagem pessoal continua até um conhecimento mais brilhante, mais precioso e é por isso que continuo querendo ser um estudante. 

Não imaginem que os horizontes do conhecimento estão confinados àqueles que o alcançaram. 

Tudo o que foi falado e escrito, pertence ao horizonte agora visível para nós, mas na medida que avançamos até ele, novos horizontes mais brilhantes vão se abrindo. 

As pessoas sedentas de conhecimento geralmente estão ocupadas buscando aprender dos livros, mas tudo o que foi escrito pertence ao horizonte já aparecido. 

Os livros foram escritos por seres humanos como nós, que alcançaram níveis de conhecimento que nós podemos ultrapassar. 

Não existe barreira para ninguém para alcançar novos horizontes de conhecimento. 

Se os americanos mandaram muitos foguetes ao espaço, eventualmente os alemães também podem mandar tantos mais, não existe nada que os impeça já que o espaço é infinito. 

O único requerido para mandar foguetes a destinos distantes é ter o conhecimento científico e autoridade necessária para construir e controlar os foguetes. 

Desta forma, o “espaço do conhecimento” é livre para todos.   

Se vocês pudessem ser foguetes, poderiam ir mais e mais longe e obter um absoluto benefício de sua viagem. 

O que é necessário para alcançar o espaço do conhecimento espiritual?

Agora somos foguetes aguardando na rampa de lançamento, que alguém venha e aperte os botões para a decolagem. 

Creio que todos nós aqui presentes estamos esperando por essa pessoa.

Vocês devem estar cientes de tudo o que está envolvido como requisito para que haja uma decolagem exitosa. 

Não imaginem que um técnico apertará um botão e vocês decolarão.

Vocês devem saber que cada componente do foguete deve ter sido instalado com precisão, e deve ter sido checado e novamente checado, antes do técnico ser autorizado a apertar o botão. 

Se não se tomam as precauções necessárias, o foguete pode explodir ainda na rampa de lançamento; ou poderá decolar, mas em pouco tempo cairá e explodirá. 

No caso de nosso foguete, o trabalho de checagem e rechecagem é de total importância, já que o risco de apertar o botão é muito grande; a todo mundo se dá uma chance durante sua vida de alcançar ao conhecimento divino. 

Portanto, devem estar atentos para aproveitar a combinação de circunstâncias necessárias e da pessoa correta para realizar sua decolagem. 

Não sejam apressados, nem permitam que a oportunidade lhes escape.

Não dê o controle a uma pessoa que não conheçam nem entendam o que são e quem são, ou seus foguetes serão destruídos antes de haverem deixado a terra. 

Vocês que estão presentes nessa reunião vem buscando algo mais que o prazeres materiais. 

Vocês, alemães, já alcançaram um nível de conforto material invejado por muita gente no mundo e mesmo com este conforto, estão buscando algo mais significativo. 

Vocês correram para os prazeres materiais como um rio corre para o mar.

Agora chegaram ao mar e estão se perguntando como cruzá-lo. 

Para atravessar esse mar vocês devem ser sinceros, sua sinceridade lhes proverá o meio para navegar. 

E só essa sinceridade impedirá que sejam vítimas de gente não honorável que queiram enganá-los vendendo tickets de barcos não existentes. 

Não é uma viagem simples, nem um caminho fácil. 

Agradeço aos nossos amigos presentes por haverem se convertido em buscadores da verdade, por haverem embarcado na busca do entendimento e por sua boa vontade para realizar algo para alcançar o entendimento. 

O que estou dizendo é uma verdade que vem se agitando em seu coração por um longo tempo, mas se não houvessem colocado em palavras, não teriam sido capazes de esclarecê-la ou compreendê-la. 

Este centro sufi é um local de reunião e em todo tempo as pessoas vem e vão. 

Vocês, para que vieram? 

O que estão buscando? 

E quando se forem, o que levarão com vocês de sua estadia? 

Devemos ser sinceros quando nos perguntamos sobre esses pontos.

Melhor que dizer que as pessoas vem aqui por uns dias, tomam o conhecimento e seguem seus caminhos, devo ser honesto e dizer como se pode ver através de meus olhos: O que vejo é que frequentar esse lugar é para nós apenas como um pic-nic, para nossos corpos físicos e nada mais.

Já que até agora aqui nada aconteceu que arrebate nossas almas. 

Mas suas idas e vindas não foram em vão, já que por debaixo dessa superfície descansa um cimento sobre o qual poderão construir. 

Eu tenho necessidade, tanto quanto vocês de abastecer meu conhecimento e poder espiritual. 

Ontem, por exemplo, desde que deixamos Londres, até chegarmos aqui, tivemos que parar cinco ou seis vezes em postos de serviço para completar nosso tanque de combustível. 

Ainda que eu tenha alcançado algo que vocês ainda não alcançaram, eu sempre estarei com necessidade de mais emanações divinas (Fuyudat), e eu sempre luto para alcançar níveis mais altos, para que essa vertente possa passar através de mim, para os servidores de meu Senhor em diferentes níveis. 

Vocês devem escutar, concentrar-se e guardar minha palavras cuidadosamente, já que fui aqui mandado pelas estações do poder Divino para essa reunião de hoje. 

Não é do meu costume preparar um palestra para vocês: as palavras que digo, jamais as escrevo e não são premeditadas. 

Uma vez que as pessoas estão aqui, as palavras vem a mim de acordo com a necessidade das pessoas. 

Eu não sei nada. 

Sou só como uma rádio que vocês escolhem para escutar uma estação de rádio. 

Às pessoas, não lhes parece estranho poder mudar a sintonia, escolhendo ouvir a voz da América, BBC, Rádio Moscou, etc., do lugar onde estão sentadas. 

Mas quando digo que estou falando a partir das estações do poder Espiritual, se surpreendem e se tornam incrédulas, dizendo: “você está falando a partir de sua própria mente” e eu lhes digo: “nesse caso eu também não acredito que esta caixa esteja falando algo que venha de Washington, Londres, Moscou ou outro lugar distante. 

É impossível, fala por si mesma, em seu nome.”

Se eu pensasse assim, também seria muito tolo. 

Mas eles não são tolos acreditando que uma caixa possa falar transmitindo de estações distantes, enquanto negam que o Ser Humano, a coroa da criação (e também o criador dos rádios) possa falar de estações de poder Espiritual, que na verdade estão mais próximos de seu coração, mais próximo que sua veia jugular? 

Enquanto estava rezando, antes de começar nossa reunião, meu coração recebeu uma mensagem de meu Grand Sheykh, instruindo-me a falar-lhes sobre a importância do equilíbrio

Nosso criador, Deus Todo poderoso, mantém sua criação no mais sutil e perfeito equilíbrio, o qual podemos observar em todas as maravilhas naturais a nossa volta. 

Isso para nós é um sinal de seu poder e de sua sutil perfeição. 

O Santo Q’uram diz: “e devemos certamente lhes mostrar nossos sinais nos horizontes e em si mesmos, até que para eles se torne claro que esta é a verdade.” (Fussilat:53) 

Se a maravilha do perfeito equilíbrio da natureza é um sinal que Ele nos mostra nos horizontes, então qual é o sinal que Ele nos mostra em nós mesmos? 

Este é um grande sinal e nele será encontrado o significado de que Deus deu ao homem a responsabilidade sobre si mesmo e sobre suas ações. 

E nele também será encontrado o segredo de que Deus deu ao homem a possibilidade de alcançar altos graus de proximidade em relação à Divina Presença, através de seu atuar responsável. 

O sinal interno é igual à criação externa: a vida interior do homem é governada por um delicado e perfeito equilíbrio. 

Deus permite ao homem alcançar um alto nível dando-lhe a habilidade de manter sua vida interior equilibrada. 

Deus honrou o homem permitindo-lhe emular o atributo divino do equilíbrio (Qist) mantendo sua própria vida interior balanceada. 

Temos duas personalidades dentro de nós mesmos. 

A primeira pertence à alma, a segunda ao ser inferior. 

O equilíbrio apropriado é que o ego (ser inferior) siga a direção da alma, já que a alma conhece os caminhos dos poderes espirituais e o ego, liberado a si mesmo, só sabe pastar. 

O ego sempre é preguiçoso, egoísta e estúpido, mas quando alcança o equilíbrio segue a vontade da alma, é um companheiro útil, capaz de trabalhar. 

Agora, meus amados amigos, vocês devem saber que o mais importante em nossa vida espiritual é manter esse equilíbrio. 

Se este equilíbrio é perturbado não podemos fazer nada nem ir a lugar algum.

Quando os ocidentais despertarem para a necessidade da busca de equilíbrio para as suas vidas interiores atormentadas, eles descobrirão que devem buscar ajuda e guia dos povos do oriente. 

O sol nasce no “Este”. 

Em tudo o que possamos observar no mundo, encontraremos um fino equilíbrio do Todo poderoso. 

A vocês se presenteou o conhecimento prático e o avanço tecnológico. 

Os ocidentais estão suficientemente orgulhosos de sua tecnologia, mas agora estão necessitados dos orientais, os países do entardecer. 

Que Lhes tenha sido dado o conhecimento do mundo material, é um favor de Seu Senhor; mas seu equilíbrio é absolutamente justo: se Ele deu algo aos povos do ocidente, não deixaria de mãos vazias aos orientais. 

Os países ocidentais podem ser superpotências, mas os centros do poder espiritual permanecem no oriente. 

Se eu posso ajudar-lhes a conseguir aquilo que suas faculdades materiais não o podem ajudar, então sou um servidor Seu. 

Sou Seu servidor e servidor do meu Grand Sheykh - de ambos os lados sou servidor. 

Meu Grand Sheykh me pediu que os advirta sobre algumas armadilhas nas quais vocês podem cair em sua busca pelo descobrimento interior, no mundo oriental e entre sua gente. 

Em particular ele me pede que os advirta sobre os caminhos desequilibrados: os dois extremos em que as pessoas de nosso tempo estão entrando e saindo: resultado da ignorância. 

Os caminhos desequilibrados tem algo em comum, tanto ocorrem no tibet, na India, na Turquia, Egito, Meca, em qualquer lugar que os ocidentais atravessem. 

A sua marca distintiva é que eles têm uma multidão de seguidores, muitos milhões ao mesmo tempo, particularmente de ocidentais. 

Sim, poderá ver muitos armazéns no oriente com uma multidão do lado de fora, esperando para comprar seus produtos diários, mas também há joalherias às quais somente alguns compradores sérios vão a cada dia.

Sim, poderá ver nos supermercados uma enorme fila de pessoas comprando tomates e rações, mas vocês não encontrarão um fila na joalheria. 

Portanto, vocês não devem ser enganados pelo fato de uma pessoa ter milhões e milhões de seguidores. 

Antes, devem se fixar em observar o que essas pessoas estão vendendo e o que as pessoas estão comprando. 

Existem dois aspectos da natureza humana que fazem com que as pessoas corram atrás de homens de quem podem se beneficiar muito pouco ou nada. 

Em primeiro lugar, é parte da natureza humana querer parar e olhar onde está indo uma multidão. 

Portanto, quando ocidentais vão atrás de uma abertura espiritual em viagem através de países do oriente, eles vão atrás desses mestres que têm uma larga multidão os seguindo. 

Em segundo lugar, como seres humanos, é nossa natureza tomar o caminho da menor resistência – tomar o caminho mais fácil e evitar o esforço. 

Não há novas descobertas nesses caminhos comuns e as visões que existem ali, não são excepcionais, senão comuns. 

O caminho do menor esforço se encontra facilmente e é de pouco interesse – barato. 

Alguém pode encontrar muitos caracóis do mar lançados na praia. 

Pode caminhar sobre eles, sem sequer dar-se conta, ou se quiser, pode levar alguns para casa.

Mas, o que dizer das pérolas? 

Quem pode encontrá-las lançadas na praia? 

Uma vez que vocês sabem que as pérolas podem ser encontradas, vocês irão se contentar somente com os caracóis? 

Então, para os que pedem por caminhos fáceis: peguem seus caracóis e sigam. 

Se vocês se sentem temerosos e sem ar suficiente, não podem mergulhar por essas pérolas. 

Mergulhar por pérolas não é tão fácil, também existem tubarões em volta, cuidando das pérolas. 

Então, quem quer mergulhar? 

Ninguém quer mergulhar nessas circunstâncias, não, eles estão contentes em buscar caracóis. 

Peguem todos os que queiram, mas saibam que nunca encontrarão pérolas. 

Entre as pérolas existe uma variedade extremamente valiosa, que é a de cor rosa. 

Estas pérolas são as mais belas, mas tão raras que só são encontradas em palácios de imperadores. 

Quem pode encontrar estas pérolas e trazê-las à superfície? 

Muito poucos mergulhadores por pérolas já encontram alguma. 

Quanto mais os colecionadores de caracóis marinhos. 

Mas os mergulhadores que buscam pérolas rosas não se desanimam com os perigos do mergulho, nem com a improbabilidade de encontrar alguma vez a ambicionada pérola; já que se sabe que ainda que encontre apenas uma, ter-se-á encontrado um tesouro incalculável. 

Não importa se vocês entregam sua vida em busca da verdade.

Entreguem e obterão os frutos da vida eterna. 

Estas duas debilidades da natureza humana, chamadas: instinto de rebanho e o ativismo, nos fazem querer seguir sempre o caminho que não requer esforço, são as duas características que fazem com que muitos ocidentais sigam os caminhos desequilibrados que lhes são oferecidos por mestres orientais. 

O primeiro desses caminhos desequilibrados é o que atrai as multidões e oferece resultados rápidos, sem colocar o ser inferior sob nenhuma disciplina. 

Os que dirigem esses caminhos dizem a seus estudantes: “Oh meus estudantes, nunca devem se opor aos pedidos de seus egos. 

Tudo o que o ego exigir, devem buscar e provê-lo. 

Seus problemas se radicam na tentativa de reprimir seus egos – quando reprimem seus egos, reprimem suas almas. 

O ego é a alma e a alma é o ego. 

Vocês são pessoas evoluídas, então devem se deixar levar por si mesmos.

Disciplinas e regras são só para gente ignorante e fanática que estão só no nível da religiosidade comum: vocês devem transcender a religiosidade e dualidade do bem e do mal. 

O Todo é uno e o Uno é tudo, agora vão e façam o que queiram.” 

Este é o resumo do seu caminho, o caminho dos demagogos. 

Mas, aqueles que seguem esses caminhos nunca estão satisfeitos, porque quanto mais eles supostamente, “se deixam ir”, mais a alma é reprimida.

Com o ataque furioso dos desejos do ego, totalmente liberado e frenético buscando satisfação no mal sem inibição, a alma é “enterrada viva”, e grita: “o que? 

Sobre mim? 

Oh ser inferior, tu não és o que sou. 

Nem és meu representante. 

Tu realmente crês que estou me desenvolvendo, com tua indulgência e com esse jogo de depravação? 

Se estás reprimindo-me desta maneira, fazendo-me uma escrava de seus ditados, nunca haverá desenvolvimento espiritual.” 

Portanto, se uma pessoa dá livre curso ao seu ego, dizendo: “vai e faz o que queres”, nada pode ser feito por sua alma. 

A alma, ainda que não esteja poluída pela corrupção do ego, está fora de ação, presa num calabouço esperando que sejam ouvidos os seus pedidos. 

Qual é o benefício de seguir tal caminho? 

Vocês ocidentais já estão fartos dos prazeres dessa vida. 

Então, se vocês garantem mais liberdade para seus egos, fazendo-os saborear mais e mais e mais, apesar do fato de já estarem saturados, o que significa quando se diz que estão seguindo um caminho espiritual? 

Os seguidores destes caminhos são como pessoas que reclamam que seus pés estão acorrentados. 

Eles dizem que estão buscando alguém que lhes possa libertar, mas vão à pessoas que além das correntes, lhes colocam botas de ferro presas em seus tornozelos. 

Estas pessoas sedentas dizem: “tirem essas correntes de nós!” e seus guias dizem: “Não, devemos por lhes ainda mais.” 

Como poderemos ter êxito se continuamos seguindo os ditados de nosso ego e continuamos nos sobrecarregando com mais ataduras? 

Somos sérios ou estamos brincando? 

Saibam que quem quer que esteja buscando desenvolvimento espiritual e seu Mestre lhe fale que faça o que quiser, não encontrou um Mestre espiritual verdadeiro. 

Um verdadeiro Mestre não pode dizer aos seus estudantes: “façam o que quiserem.” 

Devemos ter disciplina se seriamente queremos alcançar nosso objetivo: se não há disciplina não há vitória. 

Esses guias estão enganando as pessoas e estão sendo enganados a si mesmos pelos seus egos. 

Este é o primeiro caminho espiritual desequilibrado. 

Ele é altamente procurado em nossos tempos e é o pior dos dois – o pior dos caminhos. 

É um caminho totalmente sem limites e nenhum bem pode chegar a vocês por meio dele. 

Se querem se enganar a si mesmos, vão em frente, mas devem saber que não irão a lugar nenhum sem disciplina. 

O segundo caminho desequilibrado inclina-se ao outro extremo. 

Os Mestres desses caminhos impõem cargas tão pesadas sobre os ombros das pessoas e condições tão difíceis que elas terminam se rebelando. 

Se vocês sobrecarregam um burro com uma carga acima do que tem capacidade de carregar, ele se retorcerá e sacudirá até que se liberte desta carga, ou simplesmente se sentará. 

E se não o faz, seguirá até que sua espinha se quebre e ele cairá morto.

Os que seguem tais caminhos não entendem os versos do Qu’ram: “Deus não impõe a nenhuma alma uma carga superior às suas forças.” (Suratu-ul-Bakarah: 286) 

Em nossos dias frequentemente encontramos estes dois caminhos desequilibrados. 

Vocês devem ser como uma pessoa que arrasta seu arado ou sua carroça por meio de dois cavalos de força equivalente; e vocês devem controlar os dois por meio de sua força e maestria. 

Isto significa que devemos ter equilíbrio entre os impulsos da alma e do ego por meio dos poderes espirituais, que nos foram outorgados por Nosso Senhor. 

Algumas vezes, nos países orientais, uma pessoa se encontra com outras arando seu campo com um arado puxado por um camelo de um lado e um burro do outro. 

Isto não é bom, é cruel, já que um é muito alto e o outro muito baixo, não podem trabalhar juntos. 

Ao invés de serem cruéis e tontos desta forma, devemos manter um equilíbrio: devemos manter a alma em sua posição, mas também outorgar ao ego seus direitos. 

Portanto, como estamos em um caminho espiritual, devemos nos preocupar em fortalecer a posição de nossa alma, que no momento está oprimida pelo ego. 

Devemos nos opor à ditadura do ego, de forma que conceda a permissão para que a alma cresça forte. 

Mas, devemos ter cuidado, porque se ameaçamos a parcela do ego para além do que ele pode tolerar, estamos o convidando a se rebelar e a nos tomar pela cabeça. 

Novamente se trata de uma questão de equilíbrio. 

Ambas partes de nós mesmos devem estar satisfeitas, já que somos seres espirituais vivendo uma vida física. 

Estamos vivendo neste mundo, devemos comer, beber e nos casarmos.

Estes são os direitos do ego, e se não o alimentamos, não nos levará adiante. 

Mas, quando o ego busca mais que isso, come o dia inteiro sem ir a lado algum – nossas almas devem negar-se dizendo: “Não, olha aqui, agora, tenho alguns direitos que deves reconhecer. 

Se comes tanto, nunca iremos a lado algum.” 

Se pudermos fazer com que os dois lados respeitem um ao outro, teremos encontrado o equilíbrio necessário para nossos propósitos. 

Nesse momento a alma pode avançar para seu objetivo, ao longo do caminho, que conhece muito bem, com o ego ao seu lado ajudando-a a realizar sua viagem e ela permitindo ao ego as concessões que necessita para realizar seu trabalho. 

Então, tudo pode acontecer suavemente. 

O que acabamos de descrever não é uma realidade desconhecida para nenhum de nós, já que todos vivemos sob as mesmas condições: todos temos um ser superior e um ser inferior. 

Portanto, qualquer um que queira progredir na via espiritual deve reconhecer a necessidade de exercer um firme controle sobre si mesmo.

Não permita que sua situação lhes saia tanto da mão que necessitem que alguém se meta para mantê-los sob controle. 

Se a pessoa pode tomar precauções que previnam uma enfermidade, seria bom que ela ignorasse essas precauções e permitisse a doença e ter que ir a um médico para tratamento? 

Isto tem sentido? 

O que é mais fácil: tomar simples medidas preventivas, ou se submeter a uma cirurgia dolorosa e perigosa? 

Devem sempre refletir sobre seu estado interior e sobre as ações que procedem dele, perguntando-se: Quem sou eu? 

Mas, além de fazer essa prática de auto exame, também devem consultar-se regularmente com um médico. 

Existe uma nova moda atualmente entre as pessoas, de ir uma vez ao mês a uma clínica para medir a pressão, ouvir as pulsações cardíacas e etc. 

Para aquelas pessoas que estão interessadas em checar sua “pressão sanguínea espiritual” e seus batimentos cardíacos regularmente, lhes daremos os instrumentos e o conhecimento necessário para se examinarem de forma efetiva. 

Então, aqueles que desejam um método de auto exame, devem saber que ele consiste em que conscientemente façam um acordo com as duas partes de si mesmos, para seguir certo caminho, da manhã, até a noite, que nos levará ao nosso objetivo diário. 

Pela manhã devem fazer sua intenção e à noite, depois de haver seguido por seu caminho por todo o dia, então vocês devem pedir-se conta de suas ações: “Estou como pretendia estar quando fiz minhas intenções pela manhã?” 

“Sou um pouco melhor do que quando comecei o dia?” 

“Alcancei o meu objetivo diário ou não?” 

Este método é um instrumento muito importante de auto exame e um pilar de nossa prática individual, um caminho que produz frutos e por meio do qual podemos nos manter limpos. 

Ao final do dia devem se perguntar: “Minhas ações do dia foram para mim ou contra mim, para meu benefício ou minha perda?” 

Eventualmente, se mantiverem essa prática, estarão em um estado de preparação interna. 

Então, alguém apertará seu botão e vocês sairão em uma viagem para o espaço da alma. 

Todos tem esse Universo privado. 

Quando se olharem internamente, encontrarão a si mesmos, com o mundo de vocês mesmos e em vocês mesmos. 

Ninguém mais pode entrar nesse universo. 

Ali as realidades da alma estão estabelecidas firmemente em um Universo mais vasto que toda a criação material. 

Quando hajam praticado fielmente este método de auto exame, o “técnico espiritual” estará inteirado de seu estado de preparação e serão lançados através de seus Universos. 

Então nunca mais serão prisioneiros nesse planeta. 

As pessoas podem viver em meio aos empurrões e agitação da alta pressão das cidades por um determinado período de tempo, mas ao final se encontram a si mesmos desesperados e devem escapar para espaços abertos. 

Mas, a maior expansão está em vocês mesmos, nesse Universo encontrarão liberdade real. 

Não se preocupem em encontrar a liberdade através dos meios políticos do governo, já que nunca serão livres até que tenham o controle interno de vocês mesmos em suas mãos. 

Estamos amarrados e confinados pelos desejos sem fim de nossos egos.

Não somos livres para nos mover em nenhuma direção que não seja a que nossos egos indicam. 

Todas as idas e vindas anunciam uma nova ordem a seguir, um novo capricho e hábito. 

Como podem ser livres sob essas condições? 

Todos os Profetas, desde Adão até o Profeta Muhammad, que a Paz esteja sobre todos Eles, vieram para ensinar às pessoas métodos para alcançar a liberdade contra a tirania do ego. 

Sim, podemos continuar expondo sobre isso importantes temas, mas vocês são pessoas que podem compreender o suficiente de nossas palestras, como para preencher muitos volumes. 

Por isso, vou deixar-lhes com vocês mesmos.

Estou ocupado comigo mesmo, como todos estão ocupados consigo mesmos. 

Cada um de nós está esperando o seu momento.



  

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